Parece-lhe difícil, por exemplo, compreender ou admitir a oposição radical estabelecida por Descartes entre o corpo e a alma. Com efeito, como é possível a uma alma puramente espiritual, isto é, uma coisa que, segundo Descartes, não tem qualquer extensão, estar unida a um corpo puramente material, ou seja, uma coisa que é feita pura e simplesmente de extensão? Não é melhor supor que a alma, embora imaterial, seja também extensa, que tudo, até Deus, seja extenso? De outra forma, como pode Ele estar presente no mundo?
Assim, More escreve:
Primeiro, estabeleceis uma definição de matéria, ou corpo, que é excessivamente ampla, pois sugere que não somente Deus, como os próprios Anjos, bem como tudo que existe por si mesmo, sejam coisas extensas. De sorte que parece que a extensão está fechada nos mesmos limites que a essência absoluta das coisas, que pode, entretanto, ser diversificada segundo a variedade dessas próprias essências. Quanto a mim, creio estar claro que Deus é extenso à Sua maneira, uma vez que Ele é onipresente e ocupa intimamente todo o Universo, bem como cada uma de suas partículas singulares. Como poderia Ele, com efeito, comunicar movimento à matéria, como fez uma vez, e como o faz ainda agora, segundo o que dizeis, se Ele não tocasse a matéria do universo precisamente, por assim dizer, ou pelo menos não a tivesse tocado num certo tempo? Certamente não teria sido capaz de o fazer se Ele não estivesse presente em toda parte e não ocupasse todos os espaços. Deus, portanto, estende-se e expande-se desse modo; e é, portanto, uma coisa extensa.