More x Descartes: Matéria e Extensão

Tendo assim estabelecido que o conceito de extensão não pode ser usado para a definição da matéria, uma vez que, sendo demasiado amplo, engloba tanto o corpo como o espírito, sendo que ambas as coisas têm extensão, ainda que de maneira diferente (a demonstração cartesiana do contrário parece a More ser não só falsa como puramente sofística), More sugere que a matéria, sendo necessariamente sensível, só deve ser definida por sua relação com sensação, ou seja, pela tangibilidade. Mas se Descartes insiste em evitar toda referência à percepção sensível, então a matéria deve ser definida pela capacidade dos corpos de estarem em contato mútuo, e pela impenetrabilidade que possui a matéria, nisto oposta ao espírito. Este último, ainda que extenso, é livremente penetrável e não pode ser tocado. Assim, espírito e matéria podem coexistir no mesmo lugar, em naturalmente dois espíritos — ou não importa que número deles — podem ter uma única e a mesma localização e se “penetrarem” mutuamente, ao passo que para os corpos isso é impossível.

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