A rejeição da identificação cartesiana de extensão e matéria leva naturalmente à rejeição, por Henry More, da negação cartesiana da possibilidade do vácuo. Por que Deus não seria capaz de destruir a totalidade da matéria contida num certo vaso sem que para isso — contrariamente à afirmação de Descartes — suas paredes devessem se juntar? Descartes, com efeito, explica que estar separado por “nada” é contraditório e que atribuir dimensões a espaço “vazio” é exatamente o mesmo que atribuir propriedades ao nada. No entanto, More não está convencido, tanto mais porque a “Antiguidade sábia” — isto é, Demócrito, Epicuro, Lucrécio — era de opinião inteiramente contrária. É possível, naturalmente, que as paredes do recipiente se aproximassem e se confundissem sob a pressão da matéria exterior. Mas se isso vier a suceder será por causa de uma necessidade natural e não por causa de uma necessidade lógica. Ademais, esse espaço vazio não será absolutamente vazio, pois continuará cheio da extensão de Deus. Será vazio apenas de matéria ou, propriamente falando, de corpo.