O HOMEM COMO INTERMÉDIO

Em todo vivente, as partes superiores, o rosto e a cabeça, são mais belas, e as médias e inferiores não tanto. Pois bem, os homens estão na parte média e abaixo, acima está o céu e os deuses que há nele; e a maior parte do mundo está formada pelos deuses e por todo o céu que o rodeia; a terra é o centro e como qualquer outro astro. Encontrar a injustiça entre os homens causa estranheza porque se pensa que o homem é o mais digno do universo, como se não houvesse nada mais sábio que ele. Está situado entre os deuses e os animais e inclina-se para uns e outros; alguns homens assemelham-se aos primeiros; outros, aos últimos, e outros, a maioria, com intermédios. (…)

O homem não é, pois, o melhor dos viventes, mas possui uma posição média, e no lugar que escolheu e em que está, não é abandonado pela Providência: levado sempre para o alto por todos os vários artifícios de que a divindade se serve para fazer prevalecer a virtude, o gênero humano não perde seu ser racional, pelo contrário, participa, embora não do modo supremo, da sabedoria, do entendimento, da arte e da justiça nas relações de cada um com os demais — e quando se prejudica alguém, crê-se que se faz isto justamente, pois o merece —. Assim, o homem é uma criatura formosa, tão bela quanto o possível, e na trama do universo tem um destino melhor que todos os demais animais que há sobre a terra.

(Enéada III, II, 8-9.)