Onfale

Mitologia Grega – Hércules – Ônfale

Contribuição de Antonio Carneiro: Véronique Dasen, « Le secret d’Omphale »

[…] o último amor humano do herói [Hércules] foi Ônfale. Ora, Omphále, Ônfale, “umbigo feminino”, é como se fora o feminino de Onfalos (Onphalós), o “umbigo masculino”. Dado o relacionamento íntimo de Héracles com a rainha da Lídia, esta se nos apresenta, no todo, como uma res erotica, “uma ônfale” do herói.

Se os gregos visualizavam o belo como splendor ordinis, como mesótes, como busca do meio-termo, tudo fizeram em sua arte inimitável para “estabelecer as proporções precisas da beleza”. E, por isso mesmo, vendo no omphalós uma interseção, um balizamento, o limite entre a excitação e o prazer, o grande escultor ateniense Praxíteles, nascido em 390 a.C, insistiu em que o umbigo deveria estar exatamente entre os seios e o sexo. Sua Afrodite, denominada Afrodite de Cnido, a primeira estátua feminina inteiramente despida no mundo grego, e que ainda é possível “imaginar”, graças a uma cópia romana, apresenta um omphalós perfeito, redondo e profundo, como o da própria Ônfale, cuja estátua lindíssima, por sinal, em companhia de Héracles, se encontra no Museu Nacional de Nápoles. Nesse conjunto artístico Héracles-Ônfale, ela com a pele do Leão de Nemeia sobre os ombros e com a clava do herói na mão direita, ele indumentado com o leve e vaporoso traje feminino da rainha, segurando o fuso com a mão direita, é possível ver em Ônfale, personificação do próprio omphalós, uma submissão de Héracles ao princípio feminino, uma vez que à cicatriz onfálica poder-se-ia dar um enfoque de dependência inconsciente pré-natal mãe-filho. De outro lado, sendo andrógino o umbigo, “nele se fundem os dois sexos, que readquirem no centro do corpo sua unidade originária”, como nos mostra Platão no Banquete, 190-191.

Gustav Jung viu na sizígia Héracles-Ônfale a integração animus-anima: “O mito de Héracles apresenta todos os aspectos característicos de um processo de individuação: as viagens em direção aos quatro pontos cardeais, quatro filhos, submissão ao princípio feminino, ou seja, a Ônfale, que simboliza o inconsciente”. (Junito de Souza Brandão, Mitologia Grega III)