1. O céu é um princípio gerador nas antigas cosmogonias (ver Platão, Timeu 40d-e; Aristóteles, Metafísica 1091b). Aparece primeiro num contexto estritamente filosófico num passo difícil de Anaxímenes (Diels 12A17) onde é representado como pressupondo «inúmeros ouranoi que são deuses». A partir daí a opinião grega sobre o céu como simples entidade é pelo menos parcialmente substituída pela de uma multiplicidade de esferas celestes que envolvem a terra e transportam o sol, a lua e os planetas, enquanto a última esfera exterior transporta as estrelas fixas (ver Aristóteles, De coelo I, 278b). Neste mesmo passo do De coelo Aristóteles salienta que ouranos é também usado no sentido do universo total, e, na verdade, Platão ainda tinha usado os termos ouranos e kosmos indiferentemente (Fedro 247b, Político 269d, Timeu 28b); ver também kosmos.
2. A juntar à crença na divindade dos corpos celestes (ouranioi), o céu teve outra ligação com a religião: ligada à crescente sofisticação astronômica e à consequente identificação do céu como uma «ordem» extraordinária (ver kosmos) havia a crença de que o papel do filósofo era a contemplação das eternas verdades do alto. Mais conhecidas a este respeito são as anedotas acerca de Anaxágoras (ver Diógenes Laércio II, 2 e 7; Jâmblico, Protrept. 51, 6-15; talvez o comentário de Aristóteles acerca de Xenófanes na Metafísica 986b deva ser compreendido no mesmo sentido). O mesmo motivo encontra-se em Fílon, De opif. 17, 53-54, agora combinado com uma criação providencial; Deus criou os céus para que o homem, ao contemplar a sua harmonia, pudesse ser atraído para as alturas, para o estudo da filosofia.
3. Também para Platão o espetáculo dos céus tem um efeito educativo diferente: na Rep. 528e-530c a astronomia serve de introdução à dialektike (confrontar Leis 820a-822d, 967a-968a); uma visão da ordem dos céus é uma característica do mito do destino da alma tanto no Fedro 246d-247c como na República 616c-617d. O matiz é ligeiramente diferente no Timeu 47a-c; aqui a contemplação dos céus dirige-se para uma restauração da harmonia (q. v.; ver kinoun 5) na alma. Por altura da tardia Epinomis acadêmica 980a-988e estas considerações foram incorporadas na (e subjugados pela) prevalecente teologia astral (ver ouranioi 7). O céu torna-se então a residência destes deuses celestes, o Olimpo (assim Epinomis 977b; ver Timeu 30e-40b e o notável fragmento de Crítias preservado em Sexto Empírico, Adv. Math. IX, 54).