Parm. 138b-139b — Uno, nem em repouso, nem em movimento

Considera agora se em tais condições ele se acha em repouso ou em movimento.

Por que não?

Porque se se movimentasse, ou ele se deslocaria ou se alteraria, pois não há outras modalidades de movimento além dessas duas.

Certo.

Ora, vindo o Uno a alterar-se em si mesmo, não poderia continuar a ser um.

Impossível.

Logo, não sofre alteração nenhuma.

Não, evidentemente.

E porventura se desloca?

Talvez.

Se o Uno mudasse de lugar , ou giraria em círculo em torno de si mesmo ou passaria de um ponto para outro.

Necessariamente.

Se se movimentasse em círculo, não seria forçoso possuir um centro, em torno do qual girariam suas partes? Mas, de que jeito poderá movimentar-se em círculo o que não tem nem centro nem partes?

Não é possível.

Se mudar de lugar, com o tempo terá de estar noutro ponto; não é assim que ele se movimenta?

Sim, se tiver de mover-se.

Porém já não vimos que não poderá estar no que quer que seja?

Vimos.

E não é mais impossível, ainda, chegar até aí?

Não compreendi.

Para o Uno alcançar alguma coisa, não será inevitável não achar-se ainda nessa coisa no processo de alcançá-la, nem inteiramente fora dela, visto estar prestes a alcançá-la?

Forçosamente.

Se há o que seja susceptível disso, é o que for provido de partes uma das quais terá de estar dentro de algo diferente, enquanto a outro ainda estiver fora. Mas o que lhe faltar partes, de jeito nenhum poderá estar ao mesmo tempo inteiramente fora ou inteiramente dentro do que quer que seja.

É muito certo.

E o que nem é composto de partes nem é um todo, não lhe será mais impossível, ainda, chegar a qualquer ponto, já que não poderá fazê-lo nem por partes nem como um todo?

Evidentemente.

Logo, nem pode deslocar-se nem atingir determinada meta de mudar de lugar, nem girar no mesmo ponto sem modificar-se.

Parece mesmo que não.

Então, o Uno não é movido por nenhuma modalidade de movimento.

Isso mesmo; é imóvel.

Como também dissemos não lhe ser possível estar em qualquer coisa.

Dissemos.

Logo, nunca poderá estar sempre no mesmo lugar.

Como assim?

Porque, nessa hipótese, teria de estar precisamente no mesmo lugar em que se encontra.

Perfeitamente.

Porém já vimos que ele não pode estar nem nele mesmo nem noutra coisa.

Não pode, com efeito.

O Uno, portanto, nunca está no mesmo lugar.

Não está, ao que parece.

Mas o que nunca se acha no mesmo lugar, não está em repouso nem fica estacionário.

É o que se dá, realmente.

Ao que parece, então, o Uno não está nem em repouso nem em movimento.

É a conclusão que se impõe.