Parm. 140e-141d — Uno, nem velho, nem novo

E agora? Concebes que o Uno possa ser mais moço ou mais velho do que outra coisa, ou ter a mesma idade?

Por que não?

Porque para ser da mesma idade que ele mesmo ou que outra coisa qualquer, terá de participar da igualdade ou da semelhança com relação ao tempo, o que já vimos não ser possível com o Uno, nem quanto à igualdade nem quanto à semelhança.

Já vimos, realmente.

Como também dissemos que não participa nem da dissemelhança nem da desigualdade.

Dissemos, realmente.

De que modo, então, se ele é desse jeito, poderá ser mais velho ou mais novo ou da mesma idade do que quer que seja.

Não é possível.

Logo, não poderá ser nem mais moo nem mais velho nem da mesma idade do que ele mesmo ou do que qualquer outra coisa.

É evidente.

Sendo assim constituído, é absolutamente impossível que o Uno esteja no tempo, pois não é de toda a necessidade, se alguma coisa estiver no tempo, que fique cada vez mais velha do que ela mesma?

Forçosamente.

E o mais velho, não é mais velho, sempre, do que algo mais moço.

Como não?

Ora, ficar mais velho do que ele mesmo, será, a um só tempo, ficar mais moço do que ele mesmo, se tivermos de buscar algum ponto de referência para o que fica mais velho.

Que queres dizer com isso?

É o seguinte: Se uma coisa é diferente de outra, não pode vir a ficar diferente do que já é diferente dela; do que é diferente, ela difere; do que ficou diferente, diferia, e do que vier a ficar diferente, diferirá. Mas, do que se torna diferente, poderá ter sido, nem é nem poderá vir a ser diferente; torna-se diferente, nada mais.

Necessariamente.

Assim, também, o que se diz Mais velho, é uma diferença relativa a Mais moço; nada mais.

Isso mesmo.

Logo, o que vai ficando mais velho do que ele mesmo, terá fatalmente de ir ficando mais moço com relação a si próprio.

Parece.

Mas nesse processo ele não poderá ficar nem mais tempo nem menos tempo do que ele mesmo; de forma que será sempre no mesmo espaço de tempo que ele pode tornar-se ou ser ou ter sido ou vir a ser.

Isso também é inevitável.

É, por conseguinte, inevitável, como parece, que tudo o que se encontra no tempo e dele participa, tenha consigo a mesma idade e seja simultaneamente e mais velho e mais moço do que ele próprio.

Talvez.

Mas o Uno nunca participou de semelhantes contingências.

Nunca, realmente.

Não está, portanto, em nenhuma relação com o tempo; não está em nenhum tempo.

Não, de fato, conforme o demonstra nosso argumento.