Parm. 141d-142a — Uno escapa ao ser e ao conhecimento

E então? A expressões Era, Foi, Tornou-se, não parece significarem participação de um tempo pretérito?

Sem dúvida.

E agora: Será, Tornar-se-á, Virá a ser feito, não apontam para o futuro, para um tempo por vir?

Sim.

E esse É e esse Torna-se, não indicam o presente?

Sem dúvida.

Logo, se o Uno não participa em absoluto de nenhum tempo, ele nunca foi no passado, nem era nem se tornou, como no presente nem é nem chega a ser nem se forma, e também não chegará a ser nem se formará nem será no futuro.

Nada mais verdadeiro.

Poderá haver participação do ser, fora dessas modalidades?

Não pode.

Logo, o Uno não participa absolutamente do ser.

Parece mesmo que não participa.

Então, o Uno não é de jeito nenhum.

É o que se conclui.

Nem poderá ser de modo que pudesse ser um, pois então já seria algo que participasse da existência; porém, como parece, o Uno nem é um nem é, simplesmente, a aceitarmos nosso argumento.

É bem possível.

Mas o que não é, poderá ter, como não sendo, alguma coisa dele mesmo ou para ele mesmo?

Como o poderia?

Logo, nem terá nome nem explicação, como não poderá ser conhecido nem percebido nem avaliado.

Parece mesmo que não pode.

Não será, pois, denominado nem expresso, nem julgado nem conhecido, como não haverá ser que chegue a percebê-lo.

Não, evidentemente.

Mas será possível que o Uno seja assim?

Eu, pelo menos, acho que não.