Parm. 147c-148d — O Uno é semelhante e dissemelhante

E, porventura, será semelhante e dissemelhante em relação a si mesmo e aos outros?

É possível.

E já que se nos revelou diferente dos outros na medida em que os outros diferirem dele, nem mais nem menos?

Como não?

Porém, se não é nem mais nem menos, terá de ser igual.

Certo.

O que se dá com o Uno para ser diferente dos outros, e estes, por sua vez, para diferirem dele, leva o Uno a ser igual aos outros, e aos outros, iguais ao Uno.

O que queres dizer com isso?

O seguinte: Não aplicas um nome a cada coisa?

Sem dúvida.

E então? Pronuncias o mesmo nome muitas vezes ou apenas uma?

Muitas.

E será que no caso de só o pronunciares uma única vez, designas o objeto correspondente a esse nome, e se muitas vezes, não o designarás? E quer o pronuncies uma só vez, quer muitas, não é de toda a necessidade referires-te sempre ao mesmo objeto?

Como não?

E o nome Outro, não se aplica a alguma coisa?

Sem dúvida.

Quando, pois, o pronuncias, quer o faças apenas uma vez, quer muitas, não designarás nada mais se não for, precisamente, o objeto a que ele se aplica.

Necessariamente.

Sendo assim, quando dizemos que os outros diferem do Uno, e o Uno, por sua vez difere dos outros, não o aplicamos a uma natureza diferente, porém sempre àquela por ele designada.

Perfeitamente.

Mas, no mesmo ponto em que o Uno diferir dos outros e outros diferirem do Uno, nisso mesmo de serem diferentes, não adquirem caráter diferente, porém idêntico. Ora, o que tem o mesmo caráter é semelhante, não é isso mesmo?

Certo.

Logo, pelo simples fato de ser o Uno diferente dos outros, terá de ser semelhante no todo, porque é no seu todo que ele se difere do todo dos outros.

É possível.

De outro lado, o semelhante e o dissemelhante são contrários.

Certo.

Como o diferente é contrário do idêntico.

Isso também.

Porém já ficou demonstrado que o Uno e os outros são idênticos.

Ficou, de fato.

Porém ser idêntico aos outros não é uma maneira contrária à de ser diferente dos outros?

Perfeitamente.

Ora, enquanto, diferente, o Uno nos pareceu semelhante.

Sim.

Logo, por ser semelhante, virá a ser dissemelhante, em virtude, precisamente, de estar sujeito à influência contrária que o faz ser semelhante. E assim o diferente deixou-o semelhante.

Parece que sim.

O Uno, por conseguinte, terá de ser, no mesmo passo, semelhante e dissemelhante com relação aos outros: semelhante, enquanto diferente, e dissemelhante, como idêntico.

Essa conclusão, também parece bem fundamentada.

Tal como esta outra.

Qual?

Se sofre influência igual, não poderá ficar diferentemente influenciado.; se não ficar diferentemente influenciado, não se tornará dissemelhante; se não for dissemelhante, será semelhante. Por outro lado, se sofrer influência diferente, fica diferente e, como tal, será dissemelhante.

Só dizes a verdade.

O Uno, por conseguinte, como idêntico aos outros e como diferente, por ambas as razões e por cada uma em particular, terá de ser, a um só tempo, semelhante e dissemelhante com relação aos outros.

Perfeitamente.

O mesmo passa com relação a si mesmo, pois ele se nos revelou diferente e idêntico a si mesmo; logo, por ambas as razões e por cada uma em separado, terá de ser semelhante e dissemelhante.

Necessariamente.