Parm. 149d-151e — O Uno é igual e desigual

E não será, também, igual e desigual a si mesmo e aos outros?

De que jeito?

Se o Uno fosse maior ou menor que os outros, e os outros, maiores ou menores do que o Uno, não seria isso devido ao fato de o Uno ser Uno ou de serem outros diferentes do Uno, nem por serem maiores ou menores entre si, por força de sua própria essência. Para tanto, além da essência, fora necessário terem igualdade, o que os deixaria iguais. Se os outro tivessem grandeza ficaria grande, e o Uno pequenez, ou o inverso: grandeza o Uno e pequenez os outros, qualquer deles a que se associasse a grandeza ficaria grande, e o que viesse a receber a pequenez, pequeno.

Necessariamente.

Logo, essas duas ideias terão de existir, grandeza e pequenez; se não existissem, não poderiam ser contrárias entre si em ocorreriam no ser.

Como poderiam?

Se no Uno houver pequenez, esta ou se achará no todo ou em uma de suas partes.

Necessariamente.

E se estiver no todo? Não terá ou de envolvê-lo ou de alongar-se ao lado do Uno em toda a sua extensão?

É evidente.

Se for coextensivo com o Uno, a pequenez terá de ser igual a ele, e no caso de ultrapassá-lo, será maior.

Como não?

Mas, será possível vir a ficar a pequenez terá de ser igual a alguma coisa maior do que ela, passando, assim, a atuar como grandeza ou como igualdade, não como ela mesmo?

Não é possível.

Então, não será no conjunto Uno que ficará a pequenez, porém numa de suas partes.

Certo.

Como não poderá ficar, também, em toda a extensão de uma parte, pois ocorreria o mesmo que com o todo: ou seria maior do que a parte em que estivesse, ou igual a ela.

Necessariamente.

De onde vem que nunca a pequenez poderá estar em alguma coisa, nem no todo nem em suas partes, nada podendo haver de pequeno, tirante a própria pequenez.

Parece mesmo que não pode.

A grandeza, também, não poderá estar nele, pois com isso teria de haver algo maior do que a própria grandeza, a saber: aquilo em que a grandeza se instalasse, e isso sem que para ele haja algo pequeno que a grandeza precisasse ultrapassar, dado que seja grande, o que não será possível, visto não haver pequenez em parte alguma.

É verdade.

Mas, a grandeza em si mesma só poderá ser maior do que a pequenez em si mesma, como não poderá ser menor a pequenez em si mesma se não o for da própria grandeza em si.

Não, de fato.

De onde se conclui que os outros não são nem maiores nem menores do que o Uno, por não terem grandeza nem pequenez, não sendo em relação ao Uno que ambas têm a faculdade de ultrapassar ou de serem ultrapassadas, mas apenas em suas relações recíprocas. O Uno, por sua vez, não poderá ser nem maior nem menor do quem ambas, por não possuir nem grandeza nem pequenez.

Parece mesmo que não pode.

Ora, se o Uno não é nem maior nem menor do que os outros, não poderá ultrapassá-los nem ser ultrapassado por eles.

Forçosamente.

Ora, o que nem ultrapassa nem é ultrapassado, de toda a necessidade terá de ser coextensivo, e com o que for coextensivo, será igual.

Como não?

O mesmo se passa com o Uno em relação a si próprio: não contendo nem grandeza nem pequenez, não poderá ultrapassar-se nem ser ultrapassado por si mesmo; terá de ser coextensivo consigo mesmo e, com tal, igual a si mesmo.

Perfeitamente.

O Uno, por conseguinte, será igual a si mesmo e aos outros.

Parece.

Mais: como ele está em si mesmo, terá de estar para fora e em torno de si mesmo, e na qualidade de envolvente terá de ser maior, como, na de envolvido, menor do que ele mesmo; de onde vem que o Uno é, a um só tempo, e maior e menor do que ele mesmo.

Sem dúvida.

E o seguinte, também, não terá de ser inevitável, que nada exista fora do Uno e dos outros?

Como não?

Porém, sempre o que existe terá de estar em alguma parte.

Certo.

Mas o que existe algures, terá de estar em algo maior, por isso mesmo que é menor. Não há maneira diferente de alguma coisa estar noutra.

Não, de fato.

Mas, visto nada a ver fora dos outros e do Uno, e terem de estar em alguma coisa, não será inevitável que todos estejam neles mesmos, a saber, os outros no Uno e o Uno nos outros, ou que não estejam em parte alguma?

É claro.

Consequentemente, uma vez que o Uno está nos outros, os outros terão de ser maiores do que o Uno, pelo fato mesmo de envolvê-lo, e o Uno, menor do que os outros, por ser envolvido por eles. Porém, visto os outros se encontrarem no Uno, pela mesma razão terá de ser o Uno maior do que os outros, e os outros, menores do que o Uno.

Parece.

O Uno, por conseguinte, é igual a si mesmo e aos outros, como é maior e menor do que ele mesmo e os outros.

É evidente.

Ora, sendo ele maior e menor, também igual, terá de ter medidas iguais a si mesmo e aos outros, como também maiores e menores; e se tiver medidas, terá partes.

Como não?

Com medidas iguais, maiores ou menores, terá de ser numericamente superior e inferior a si mesmo e aos outros, e também igual a si mesmo e aos outros.

Como assim?

Há de ser de maior medida do que as coisas que ele ultrapassa em grandeza, e quanto mais medidas, mais partes. O mesmo vale para as iguais.

Certo.

Sendo, por conseguinte, e maior e menor do que ele mesmo, e igual a si mesmo, terá de ter medidas iguais a si mesmo ou maiores e menores do que ele mesmo; e se tem medidas, terá partes.

Como não?

Sendo igual a ele mesmo em partes, será igual em número a si mesmo; se tiver mais, será de número maior; se tiver menos, menor.

É evidente.

E não se passa o mesmo em relação ao Uno com os outros? Se parecer maior do que eles, por força terá de ser-lhes numericamente superior; se menor, inferior; e se for de grandeza igual, também será de igual número que os outros.

Forçosamente.

Por tudo, isso, como parece, o Uno terá de ser igual, superior e inferior em número, tanto em relação consigo mesmo como com os outros.

Sem dúvida.