E com os outros, que acontece?
Não saberei dizê-lo.
Porém o seguinte saberás: que os outros além do Uno, se forem, de fato, outros, e não apenas o Outro, serão mais numerosos do que o Uno; se fossem apenas o Outro, seriam um; porém sendo outros, terão de ser mais e constituir multidão.
Multidão.
Porém se constituem multidão, terão de participar de algum número mais do que um.
Como não?
Ora bem. E a respeito de número, quais diremos que nasceram primeiro e se formaram: os maiores ou os menores?
Os menores.
Logo, o mínimo antes de todos, sendo esse, precisamente, o Uno. Não é isso?
Certo.
Daí se conclui que, de tudo o que tem número, o Uno foi o primeiro a nascer, Porém os outros também têm número, visto serem outros, não apenas outro.
Têm, de fato.
Tendo sido o primeiro a nascer, ao que imagino, nasceu antes, vindo depois os outros; mas o que nasce depois é mais novo do que o que nasce antes; de onde vem serem mais novos os outros do que o Uno, e o Uno mais velho do que os outros.
Pois que seja.
E o seguinte: o Uno se terá formado contra sua própria natureza, ou isso não será possível?
Não é possível.
Porém o Uno já se nos revelou como tendo partes. Ora, se é constituído de partes, terá de ter princípio, fim e meio.
Certo.
Porém, não é o começo, em tudo, o que se forma primeiro, tanto no Uno como em cada uma das outras coisas, e, depois do começo, tudo o mais, até o fim?
Como não?
Todavia, não diremos que tudo o mais são as partes do todo e do Uno e que foi só com o fim que este se tornou Uno e todo?
Diremos, sem dúvida.
Porém eu penso que o fim é o último a formar-se, e que faz parte da natureza do Uno nascer juntamente com ele, de sorte que se for de toda a necessidade que o Uno em si mesmo não nasça contrariamente à sua natureza, pelo fato de nascer juntamente com o fim, a ordem natural é que ele nasça por último.
É evidente.
Logo, o Uno é mais novo do que os outros, e os outros, mais velhos do que o Uno.
Isso, também , se me afigura evidente.
Mas, como? O começo ou qualquer outra parte do Uno ou do que for, uma vez que seja uma parte, não partes, não terá de ser um, visto ser uma parte?
De toda necessidade.
Consequentemente, o Uno nasce com a primeira coisa que nasce, e depois com a Segunda, e não pode faltar em todos os nascimentos subsequentes, até que, depois de alcançar o último, se torna um todo, sem deixar de ter em sua formação nem meio, nem começo, nem fim, nem nada de nada.
É verdade.
O Uno, por conseguinte, é da mesma idade que todo o resto, de sorte que, a menos que viesse a nascer contra sua própria natureza, o Uno não nasceu nem antes nem depois dos outros, porém ao mesmo tempo. Assim, de acordo com o presente argumento, o Uno não seria nem mais velho nem mais novo do que os outros, nem os outros, mais velhos ou mais novos do que o Uno; ao passo que o argumento anterior o fazia mais velho e mais moço, passando-se o mesmo com os outros em relação a ele.
Perfeitamente.