Parm. 154a-155c — O Uno não advém e advém

Assim é e assim nasceu. E agora, que pensar da tese de tornar-se o Uno e mais velho e mais moço do que os outros, e os outros mais do que ele, sem com isso vir a ficar nem mais velho nem mais moço? Com o devir não se passaria a mesma coisa que com o ser? ou será diferente?

Sobre isso, não sei o que diga.

Eu, pelo menos, posso afirmar que se um ser é mais velho do que outro, não poderá ficar mais velho do que a diferença das respectivas idades ao seu nascimento, e também que o mais moço nunca poderá ficar mais moço ainda. Porque se acrescentarmos quantidades iguais a quantidades desiguais – ou se trate do tempo ou to que quer que seja – a diferença daí resultante se conservará sempre igual à do começo.

Sem dúvida.

Logo, de jeito nenhum o que é ficará mais velho ou mais moço seja do que for, por manter-se sempre igual a diferença de idade: um se tornou e é mais velho; e o outro, mais moço; porém nenhum passa a ser uma coisa ou outra

É muito certo.

Logo, o Uno que é, não se torna nem mais velho nem mais moço do que os outros são.

Sem dúvida.

Porém vê se por este outro prisma eles não se tornam mais moços ou mais velhos.

Qual será?

Pelo fato de nos ter aparecido o Uno mais velho do que os outros, e os outros mais velhos do que o Uno.

E daí?

Quando o Uno é mais velho do que os outros, é que sem duvida ele existe há mais tempo do que os outros?

Certo.

Insiste nesse raciocínio. Se a um tempo mais longo e a um mais curto ajuntarmos um tempo igual, daí por diante o mais longo ultrapassará o mais curto da mesma fração ou de uma fração menor?

De uma fração menor.

Então, a diferença de idade entre o Uno e os outros não continuará sendo a mesma do começo; à medida que o Uno é acrescido das mesmas quantidades de tempo que os outros, diminui a diferença inicial da idade. Ou não?

Diminui.

Ora, se a diferença de idade de um com relação a outros diminui, não fica ele mais novo relativamente aos que ele mesmo era mais velho?

Sim, mais novo.

Logo, se fica mais novo, os outros não ficaram mais velhos do que eram antes?

Perfeitamente.

Sendo assim , o que se tornou mais novo torna-se mais velho em relação ao que nasceu antes dele e é mais velho. Porém, de fato, nunca é mais velho; não para de ficar mais velho do que o outro; um não deixa de rejuvenescer, e o outro de envelhecer. Por sua vez, o mais velho se torna mais moço do que o mais moço. Marchando os dois em sentido contrário, tornam-se o contrário um do outro, a saber: o mais moço, mais velho do que o mais velho, e o mais velho, mais moço do que o mais moço; porém o que nunca conseguem é chegar ao fim desse processo, porque se conseguissem, deixariam de tornar-se: seriam. O que se dá é que todos se tornariam reciprocamente mais velhos e mais moços. O Uno se torna mais moço do que os outros, por se nos ter revelado mais velho e haver nascido primeiro, e os outros, mais velhos do que o Uno, por haverem nascidos mais tarde. O mesmo raciocínio vale para os outros em relação ao Uno, por se nos terem revelado mais velhos e nascidos primeiro.

É assim também que eu penso.

Logo, desde que nenhuma coisa pode ficar nem mais velha nem mais nova do que outra, por isso mesmo que a diferença de idade se manterá sempre a mesma, nem o Uno poderá ficar mais velho ou mais novo do que os outros, nem os outros, mais ou menos do que o Uno. Por outro lado, desde que varia indefinidamente a fração da diferença entre os que nasceram primeiro e os que vieram depois, e o inverso, é inevitável que os outros se tornem mais velhos ou mais moços do que o Uno, e o contrário disso: o Uno, mais velho e mais moço do que os outros.

Perfeitamente.

Disso tudo se conclui que o Uno é e se torna mais moço e mais velho do que ele mesmo e do que os outros, e não é nem se torna mais novo nem mais velho do que ele mesmo nem do que os outros.

Exatíssimo.