E também que as outras coisas diferem dele, pois de outra forma não fora possível afirmar que ele é diferente dos outros.
Isso mesmo.
E além do conhecimento, cabe atribuir-lhe diferença, porque não nos referimos à diferença das outras coisas, quando dizemos que o Uno é diferente do outros, porém à sua própria diferença.
É evidente.
Além disso, o Não-um que não é, participa também de relações como Daquele, De alguma coisa, Deste, A este, Destes, e de mil outras determinações análogas. Não se poderia falar nem do Uno nem das outras coisas diferentes do Uno, bem como nada haveria dele ou para ele, nem se poderia dizer algo a seu respeito, se ele não participasse de alguma coisa ou de tudo o mais que ficou dito.
Certo.
Existência, por conseguinte, o Uno não pode ter, dado que não é, porém nada impede de participar de muitas coisas; sim, é até mesmo inevitável que participe, visto tratar-se precisamente desse Uno que não existe, não de outra coisa. Pois se não for o Uno, esse mesmo Uno que não existe, e se trata de outra coisa, nem valerá a pena abrir a boca. Mas se é esse mesmo Uno, não qualquer outra coisa, cuja existência está em causa, não somente lhe cabe a designação Desse mesmo como infinitas outras.
Perfeitamente.
Terá também de ser dissemelhante com relação às outras coisas; sendo as outras coisas diferentes do Uno, serão também de outra forma.
Certo.
De outra forma, não quererá dizer diverso?
Como não?
Como diverso é dissemelhante?
Dissemelhante, sem dúvida.
Logo, se são de dissemelhantes ao Uno, é claro que esse dissemelhante só será dissemelhante com relação a algum dissemelhante.
É evidente.
Há, por conseguinte, dissemelhança no Uno em relações às outras coisas que lhe são dissemelhantes.
Parece.
Ora, se ele apresenta dissemelhança com relação a outras coisas, não será inevitável ter semelhança consigo mesmo?
De que jeito?
Porque se o Uno apresentasse dissemelhança com o Uno, o de que falamos não poderia ser o Uno, nossa hipótese não versaria sobre o Uno, mas sobre algo diferente do Uno.
Perfeitamente.
O que não é possível.
Não, realmente.
Logo, importa que o Uno seja semelhante a si mesmo.
Importa, pois não.
Ademais, não é igual às outras coisas; ser igual implica existência, além de ficar sendo igual às outras coisas em virtude da própria igualdade, dois pressupostos absolutamente inaceitáveis, se o Uno não existir.
Inaceitáveis, realmente.
E se não é igual aos outros, forçosamente os outros não serão iguais a ele.
Sem dúvida.
Mas, o que não é igual, não será desigual?
Sim.
E o desigual, não é desigual ao desigual?
Como não?
Desse modo, o Uno participa da desigualdade no que respeita a serem os outros desiguais a ele?
Participa.
Mas a desigualdade comporta grandeza e pequenez.
Comporta.
Logo, nesse Um há grandeza e pequenez.
É possível.
Porém grandeza e pequenez estão sempre distantes uma da outra.
Perfeitamente.
De onde vem que entre ambas há algum intermediário.
Sem dúvida.
E poderás indicar outro intermediário além da igualdade?
Não há outro.
Onde ocorre grandeza e pequenez, terá de haver entra as duas a igualdade.
É evidente.
Sendo assim, o Uno não é, ao que parece, participa da igualdade, da grandeza e da pequenez.
Parece, realmente.