Parm. 164b-165e — Retorno à Negação Relativa: O Uno não é…

Passemos agora a considerar o que acontecerá com as outras coisas, se o Uno não é.

Sim, façamos isso mesmo.

Obviamente, é preciso que sejam outras; se não fossem outras, nada se poderia dizer das outras coisas.

Certo.

Ademais, se é das outras coisas que se fala, terão de ser diferentes. Ou não empregas para a mesma coisa a expressão Outra e Diferente?

Sem dúvida.

Porém quando dizemos Diferente, queremos significar que é diferente de algo diferente, e que Outro, também, é outro de outra coisa.

Certo.

Para as outras coisas, também, se tiverem de ser outras, terá de haver outras coisas com relação às quais elas sejam outras.

Necessariamente.

Que será? Do Uno é que elas não poderão ser outras, porque o Uno não é.

Não, de fato.

Nesse caso, terão de ser outras entre elas mesmas; é só o que lhes resta, para não serem outras em relação a nada.

Certo.

Assim, é sempre em grupos que cada uma é outra em relação às outras; como unidade é que não poderão ser ,já que o Uno não é. Pelo contrario ; ao que parece, cada uma dessas massas é infinita em número, e quando alguém pensa haver tomado uma porção mínima, de súbito, como nos sonhos, em vez de uma, como parecia, nos surge múltipla, e em lugar de muito pequena, imensamente grande, comparada com as partículas de que é composta.

Certíssimo.

É como massas desse tipo que as outras coisas são outras em si, se forem outras sem que haja o Uno.

Perfeitamente.

Terá de haver, portanto, grande número dessas massas que individualmente parecerão unidade, sem que, no entanto, o sejam, visto não haver o Uno.

Isso mesmo.

Como também parecerá que elas formam número, sem que em verdade o sejam, uma vez que há o Uno.

Como não há.

E também parecerão conter, é o que dizemos, a quantidade mínima; mas essa quantidade parecerá múltiplas e imensa em comparação com cada um desses múltiplos que em si mesmos são pequenos.

Como não?

Ademais, cada massa será imaginada como igual a suas numerosas e pequenas partes, pois não poderá parecer que passa da maior para a menor antes de dar a impressão de chegar ao meio, o que já seria um simulacro e igualdade.

É provável

E cada massa, não parecerá limitada com relação às outras e a si mesma, conquanto não tenha nem começo nem meio nem fim?

Como assim?

Porque se em qualquer delas considerarmos em pensamento algo nesse sentido, por detrás do começo aparecerá outro começo, para além do fim sobrará sempre outro fim, e no meio, mais central do que ele, outro meio menor, por não ser possível conceber nenhum deles como unidade, visto não existir o Uno.

Perfeito.

Assim, todo ser que concebermos em pensamento, terá forçosamente de milpartir-se em pedacinhos, segundo creio; será sempre apreendido como massa carecente de unidade.

Perfeitamente.

Para quem as contemplar de longe, com vista turva, cada uma dessas massas aparecerá forçosamente como unidade; mas para quem as examinar de perto, com espírito atilado, cada uma se revelará como multidão infinita, visto carecer do Uno que não é.

É mais do que obrigatório ser dessa maneira.

Assim, terão as outras coisas de parecer infinitas e limitadas, unas e múltiplas, no caso de não existir o Uno, mas apenas as outras coisas que não o Uno.

Sem dúvida.

E não parecerão também semelhantes e dissemelhantes?

Como assim?

À maneira de certos quadros: de longe, tem-se a impressão de unidade, parecendo, assim, de característica uniforme e semelhante.

Perfeitamente.

Porém de perto, aparecem como múltiplo e diferente, e esse simulacro de diferença lhes empresta caráter de diversidade e de dissemelhança consigo mesmo.

Certo.

É, pois, inevitável que as massas pareçam semelhantes e dissemelhantes, tanto entre elas como individualmente consideradas.

Perfeitamente.

Como também iguais e diferentes entre elas mesmas, em contacto e separadas, agitadas por toda espécie de movimento e imóveis de todas as maneiras, nascendo e morrendo e sem nascerem nem morrerem, e tudo o mais do mesmo gênero que nos fora fácil enumerar, uma vez que, não havendo o Uno, só há multiplicidade.

É mais do que certo.