Segundo Brisson existem cerca de dezesseis textos ou conjuntos de textos que ao longo do tempo foram atribuídos a Platão. Por que traduzir e comentar estes textos? Poque eles constituem uma testemunha inestimável sobra a história da tradição platônica, notadamente no quadro da Antiga Academia (268-68 aC) que a segue, períodos essenciais para a história do platonismo, mas sobre as quais dispõe-se de poucas informações. O Segundo Alcibíades, o Clitofon, o Epinomis e o Minos se apresentam como as primeiras interpretações de diálogos platônicos, a saber o Primeiro Alcibíades, a República e as Leis. O outros abordam temas muito discutidos na época helenística; o Halcion trata da providência divina que administra o mundo; Axiocos, que pertence ao gênero da “consolação”, desenvolve uma série de argumentos destinados a acalmar o medo da morte; o Demodocos se interroga sobre as questões de senso comum, a deliberação e a persuasão; o Erixias coloca uma série de questões sobre a riqueza, sua significação e seu uso; o Hiparco tenta definir a rapacidade; “Sobre o justo” assim como “Sobre a virtude” abordam temas muito debatidos na época helenística; os Rivais investigam uma definição da filosofia; o Sísifo se interroga sobre a possibilidade da deliberação em comum (e logo da política); e enfim, o Teages sobre a educação. Lendo estes textos, encontra-se uma problemática filosófica que era aquela da época helenística, mas tratado em uma perspectiva platônica onde se fazia sentir a influência do estoicismo, do epicurismo e sobretudo do ceticismo. Como só nos resta fragmentos dos filósofos platônicos da época, compreende-se o enorme interesse que representam os diálogos duvidosos e apócrifos para um historiador do platonismo. Eles nos fazem com efeito conhecer os temas filosóficos abordados pelo movimento platônico, mas também e sobretudo o tipo de argumentos desenvolvidos na Antiga Academia, onde se impôs, contra os defensores de Aristóteles, um dogmatismo assimilando ou identificando as realidades inteligíveis a números, e sobretudo na Nova Academia onde, contra os estoicos, se estabeleceu um probabilismo que punha em causa todo critério de verdade tendo por objeto o mundo sensível. Os diálogos duvidosos e apócrifos nos permitem estabelecer uma ligação entre o platonismo literário e dialético da época de Platão e da Academia e o dogmatismo escolástico deste renascimento que se desenvolveu no século I de nossa era, e que foi qualificado de Médio Platonismo pelos historiadores modernos. A estes diálogos, deve-se adicionar alguns Epigramas que devem fazer prova do talento literário de Platão, e uma coletânea de definições que deveria servir ao ensinamento. (Brisson, PLATON, OEUVRES COMPLÈTES)
Diálogos suspeitos e apócrifos
- Bouillet: Tratado 27 (IV, 3) – QUESTIONS SUR L’ÂME, I
- Bovet: Le dieu de Platon d’après l’ordre chronologique des Dialogues
- Bréhier: DIALÉTICA PLATÔNICA
- Bréhier: O ENSINAMENTO ORAL DE PLATÃO
- Caráter fictício do diálogo platônico [Fossheim et al, 2019]
- Conexão entre diálogo e democracia [Goldhill, 2008]
- Cronologia dos diálogos platônicos (Brisson)
- Diálogos de Platão, linguagem falada [Gadamer, 1980]
- Diálogos suspeitos e apócrifos
- Dupuis: Le nombre géométrique de Platon