Na época de Plotino, segundo P. Hadot, tinha-se a náusea do corpo. Esta será a princípio uma das razões da hostilidade pagã Ao mistério da Encarnação. Porfírio o dirá claramente:
Como admitir que o divino tenha se tornado embrião, que após seu nascimento, envolvido em panos, todo sujo de sangue, de bile — e pior ainda. (Contra os Cristãos, fragm. 77)
Mas os cristãos eles mesmo verão bem que este argumento se volta contra eles que, tal como os platônicos, creem na preexistência das almas em um mundo superior:
Se as almas, como se conta, eram da raça do Senhor, elas habitariam sempre a corte do Rei e não teriam porque deixar este lugar de beatitude… elas não teriam porque, por um movimento irrefletido, ganhado estes lugares terrestres onde elas habitam corpos opacos, estreitamente misturados de humores e de sangue, nestas vasos de excremento, nestes jarros imundos de urina. (Arnóbio, Adv. Nat. II, 37)
Pode-se dizer que os filósofos desta época buscavam explicar esta presença da alma divina em um corpo terrestre e que respondem a um interrogatório ansioso do homem que se sente estrangeiro aqui em baixo:
Quem fomos nós? Que somos advindos? Onde estávamos? Onde fomos jogados? Onde vamos? De onde nos vem a liberação? (Clemente de Alexandria, Extratos de Teódoto, 78)
Na escola mesmo de Plotino, alguns davam a esta interrogação gnóstica a resposta do gnosticismo. Para eles, as almas caíram no mundo sensível em seguida a um drama exterior a elas. Uma Potência má criou o mundo sensível. As almas, parcelas do mundo espiritual, aí se encontravam prisioneiras apesar delas. Mas, vindas do mundo espiritual, permaneciam espirituais. Sua infelicidade vinha somente do lugar onde se encontravam. Com o fim do mundo, com a derrota da Potência má, sua provação teria fim. Elas retornariam no mundo espiritual, no “Pleroma”. A salvação era portanto exterior à alma: consistia em uma mudança de lugar; dependia da luta entre Poderes superiores.