SENSATION and SENSE-PERCEPTION are used, almost indifferently, for any action or passive-state by which man experiences the material world or any of its manifestations or representations. (Stephen MacKenna)
No entanto, ao homem é necessário o conhecimento sensível. A sensação representa o nível mais baixo do conhecimento, por registrar apenas os dados do exterior: “Quanto à faculdade perceptiva (da alma), diremos que ela se limita somente às coisas externas (toü éxou monón)” (En. V, 3, 2, 2-4). A sensação é receptiva, percebendo as formas externas (tà eídê) dos objetos, qualidades que existem independentemente de nós. “O conhecimento também se dá mediante os órgãos do corpo. Por intermédio desses órgãos, que estão como que em continuidade com as coisas sensíveis, a alma chega, de alguma forma (pôs), isto é, através da sensação, a unir-se (hèn iénai) com elas, e assim se estabelece entre a alma e as coisas uma unidade (hèn pôs prós autà tà aisthêtà iénai)” (En. IV, 5, 1, 10-14; cf. etiam En. IV 6, 1, 23-32). Dá-se, portanto, uma assimilação1. Isso significa que o tò ti, o lógos, a essência imperceptível age externamente nos órgãos sensoriais do cognoscente, mediante as qualidades às quais subjaz. As qualidades apreendidas pelo cognoscente são as mesmas que as dos objetos. Dessarte, podemos afirmar que Plotino professa o realismo gnosiológico, porque as coisas existem independentemente do sujeito cognoscente, havendo a polaridade sujeito-objeto. Às formas perceptíveis na matéria Plotino dá vários nomes: eídôla, mi-mêmata, eikónes. Desse modo, ele acena para um arquétipo anterior. Por isso, diz Eyjólfur Kjalar Emilsson, com referência a Plotino: “(…) se a percepção nos revela características objetivas do mundo, então existe um mundo objetivo, e o mundo que percebemos não é criação de nossos sentidos”2.
O filósofo de Licópolis não pode ser, portanto, acoimado de subjetivista, no sentido de que aquilo que é apreendido pelos sentidos é constituído por imagens subjetivas do mundo exterior. Estas de fato têm fundamento in re. Nem se enquadra no idealismo, porquanto este sustenta não haver mundo externo, com formas na espacialidade, independentemente do sujeito. Em suma, o mundo objetivo existe e não é criação do sujeito cognoscente. Por isso, Plotino jamais pôs em dúvida a adequação da percepção sensorial como conhecimento das qualidades externas ou objetos. (Excertos de “Plotino, um estudo das Enéadas”, de R. A. Ullmann)
Em vários passos, Plotino usa, para a percepção, a imagem de “impressão” (typos), mas com uma ressalva: “(…) as impressões não são como impressões em cera” (En. III, 6, 29-30; cf. etiam En. III, 6, 1, 7-14). Isso quer dizer que o typos não pode ser interpretado fisicamente.). Plotino compara-a a um retrato num espelho e que não aparece, não estando iluminado, mas que, exposto à luz, se tornaria um “duplo” do modelo((ARNOU, op. cit., p. 286. ↩
EMILSSON, Eyjólfur Kjalar, Cognition and its object. In: The Cambridge Companion to Plotinus. Edited by Lloyd P. GERSON (Cambridge, 1996), p. 232. ↩