Todo

Segundo Brisson e Pradeau, a totalidade exprime uma hipótese maior da doutrina plotiniana: o todo está em tudo; cada realidade “possui todas as coisas”, o que quer dizer que o Intelecto e mesmo o Uno são na Alma. O que quer dizer também que o inteligível é de certa maneira no sensível; Plotino precisa com efeito que o mundo sensível gira ao redor do mundo real que é o inteligível (Tratado 22,2). Os tratados 22 e 23 demonstram a universal imanência do inteligível no sensível, apesar mesmo de sua separação: o que está lá (ekei) não permanece menos, de certa maneira aqui (enthauta). Da mesma , é preciso reconhecer que o Intelecto, se não lhe pertence, está bem “na” Alma, como o sustenta o Tratado 49,3.


Os três últimos capítulos do Tratado-30 (Eneada-III, 8, 9) intitulado «Da natureza, da contemplação e do Uno» refletem ainda sobre o Uno. Posto que há na Inteligência certa multiplicidade, ou pelo menos dualidade – como aquela da inteligência e do inteligível – é preciso um além da Inteligência, pois a multitude é posterior à unidade e a unidade é o princípio do número: tal é o Uno (Eneada-9-1-1). Ele é a Vida primeira, é o que dá a vida a tudo, «uma atividade que percorre as coisas», mas é bem precisado que se trata não de um percurso que se completa, mas de um percurso que é completado, pois não está nem em movimento nem em repouso, mas os dois juntos: é o princípio do percurso, da vida, da inteligência e de tudo. Não é o todo que é princípio, mas o todo nasce do princípio: o Uno não é o todo nem uma parte do todo, mas aquilo de onde vem o todo, que engendra o todo, que não é multiplicidade, mas princípio da multiplicidade. Com efeito, se fosse ao mesmo tempo um e todo, ou bem seria cada coisa deste todo ou todas as coisas juntas. No segundo caso seria posterior a todas as coisas; se é ao mesmo tempo ele mesmo e tudo não será princípio. Todas estas antinomias sublinham o caráter único do Uno. Por outra parte as expressões “anterior” ou “posterior” não são para serem tomadas em um sentido cronológico, trata-se de instantes de razão, pois o Uno é na eternidade. Ele é portanto o princípio e antes de todas as coisas a fim de que tudo seja nele. Dizer que é cada uma destas coisas seria supôr que cada coisa é similar às outras e suprimir toda distinção entre os seres. Ele não é nenhum ser e os precede todos.


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