Plotino – Tratado 39,1 (VI, 8, 1) — Exposição do objeto da pesquisa

tradução

1. É possível investigar, mesmo a respeito dos deuses [theois], se algo depende deles, ou melhor convém limitar esta investigação às faculdades dos homens [anthropos], fracas e hesitantes, estando entendido que se deve acordar aos deuses o poder sobre todas as coisas, e que não é uma só coisa que deles depende, mas todas? Ou bem o poder total e o fato de ter todas as coisas em seu poder devem em verdade ser acordados ao Uno [hen], quando, para os outros seres, alguns exercem seu poder sobre todas as coisas, e outros sobre uma única? E a quais deuses correspondem cada um destes dois casos? Nos é necessário fazer esta investigação e ter a audácia de a levar até as primeiras realidades, e até o que se mantém no alto acima de tudo [ekei]: enquanto conveniamos que o Uno tem o poder de tudo completar, podemos demandar como alguma coisa dele depende. E se deve igualmente examinar em que sentido emprega-se este termo de «poder» [dynamis], a fim de evitar que nos expressemos por aí o que é ora potência e ora ato [energeia], quer dizer um ato a vir. Mas é preciso de momento remeter estas questões para mais tarde, e fazer então portar nossa investigação sobre nós mesmos, em buscando, como temos costume de o fazer, se algo se acha dependente de nós. Em primeiro lugar, nos é preciso buscar o que vale dizer que «algo depende de nós» [eph hemin]; em outros termos, que noção corresponde a uma tal expressão? Pois assim procedendo se poderá saber aproximativamente se convém ou não reportar esta expressão aos deuses, e mais ainda ao deus. E se ela devia ser empregada a seu respeito, se deve ainda investigar de que maneira «o que depende de si» se aplica às outras coisas e àquelas que são. Que temos nós por conseguinte no espírito quando dizemos que «algo depende de nós» e porque buscamos o saber? Penso da minha parte que quando somos lançados em azares contrários [tyche], submetidos aos rigores da necessidade [ananke] e que os violentos assaltos das paixões [pathe] se amparam de nossa alma, se julgamos que tudo isso nos domina, que aí estamos sujeitos, e somos conduzidos aí onde isso nos leva, nos demandaremos com perplexidade se não somos nada e se não é verdade que nada não depende de nós, na medida que «o que depende de nós» designa o que podemos completar sem ser submetidos aos golpes do azar e da necessidade assim como às violências das paixões, e o que queremos sem que nada faça obstáculo a nossas vontades. Mas, se assim é, a noção de «o que depende de nós» designará o que é sujeitado à vontade [boulesis] e que advém ou não na medida em que o quisemos. Pois o que é voluntário, é tudo que não é executado sob a constrição e que se acompanha de um saber, enquanto que o que depende de nós, é o que realizamos em sendo também os mestres. E os dois convergem frequentemente, mesmo se nossas definições são diferentes. Acontece no entanto que as duas expressões esteja dissociadas: por exemplo, se alguém é mestre de matar, não agirá voluntariamente se ignora que a vítima é seu pai. Talvez com efeito a expressão «voluntária» deva estar dissociada daquele que tem a capacidade de fazer o que depende dele mesmo. Seguramente, não é somente o conhecimento dos detalhes que deve constituir o que é voluntário, mas também aquele do conjunto. Por qual razão com efeito, alguém age involuntariamente se ignora que está ao encontro de um próximo, e não age involuntariamente, se ignora que não deve realizar este ato? Poderia se sustentar que é porque deveria o aprender. Mas não saber que era necessário aprendê-lo não é um ato voluntário, assim como não é voluntário o que desvia desta aprendizagem.

Igal

¿Cabe preguntarse, aun a propósito de los dioses, si hay [1] algo que esté a su arbitrio?. ¿O no, sino que tal pregunta sería pertinente en el ámbito de la impotencia de los hombres y de sus potencias equívocas, mientras que a los dioses hay que atribuirles la omnipotencia y el que no sólo algo, sino todo, esté a su arbitrio? ¿O no, sino que la omnipotencia [5] y el tener todo a su arbitrio hay que atribuírselo a uno solo, mas a los restantes, a unos lo segundo, a otros lo primero y otros lo uno y lo otro? Estas son las preguntas que hay que plantearse. Pero en el caso de los Seres primeros y del Principio soberano que está sobre todas las cosas, hay que tener la osadía de plantearse una nueva pregunta: ¿cómo [10] pueden tener albedrío aun concediendo que sean omnipotentes? Aunque esta misma omnipotencia, hay que estudiar cómo se entiende, no sea que con ella les atribuyamos dos cosas: potencia y acto, es decir, un acto venidero.

Pero de momento debemos aplazar estos problemas y preguntamos antes sobre nosotros mismos, sobre los cuales acostumbramos [15] a hacerlo, si por ventura hay algo que esté a nuestro arbitrio. La primera pregunta ha de ser ésta: ¿qué quiere decir que algo está a nuestro arbitrio? Es decir, ¿cuál es el concepto de «a nuestro arbitrio»? Porque así conoceremos de algún modo si es adecuado transferir a los dioses, y lo que es más, a Dios, la noción de albedrío, o si no hay que transferírsela; [20] o si hay que transferirla pero inquirir, por otra parte, cómo se verifica en los demás y, en particular, en los primeros.

¿Cuál es, pues, nuestra noción de albedrío, cuando hablamos de albedrío, y por qué preguntamos esto? Tengo para mí que cuando nos movemos en medio de cosas que se apoderan del alma (azares adversos, fatalidades y violentas [25] arremetidas de pasiones), al creemos dominados y esclavizados por estas cosas y arrastrados a su antojo, nos preguntamos desconcertados si no seremos nada ni habrá nada a nuestro arbitrio, dando por supuesto que estará a nuestro arbitrio cuanto obremos por voluntad propia sin estar sometidos a azares, fatalidades o pasiones violentas y sin que nada [30] se oponga a nuestra voluntad. Y si esto es verdad, el concepto de lo que está a nuestro arbitrio bien puede ser el de lo que está sometido a nuestra voluntad y que en tanto sucederá o no en cuanto lo queramos nosotros. Es «voluntario» todo acto que se pone sin coacción y a sabiendas y está «a nuestro arbitrio» todo acto que somos dueños de obrar.

[35] Y hay muchos casos en que bien puede ser que coincidan ambas cosas, aunque sus conceptos sean distintos; pero hay otros que es posible que no vayan a una: por ejemplo, si uno es dueño de matar, no por eso el acto sería voluntario si quien dio muerte desconocía que el muerto era su padre. Y aun puede ser que lo voluntario no vaya a una con el agente que tiene dominio del acto. Es preciso, pues, que en lo voluntario [40] haya conocimiento no sólo de las circunstancias particulares, sino también de lo universal. ¿Por qué el acto es involuntario si se desconoce que el muerto es un amigo, mientras que se desconoce que no debe matarlo no es involuntario? Y si se objeta que debería saberlo, la respuesta es que ese desconocimiento no es voluntario o no lo es la causa que impide el conocimiento.

Guthrie

DOES FREE WILL BELONG TO GOD ONLY. OR TO OTHERS ONLY?

1. Do the divinities themselves possess free will, or is this limited to human beings, because of their many weaknesses and uncertainties? (For we assume that) the divinities possess omnipotence, so that it would seem likely that their actions were free and absolutely without petty restrictions. Or must we hold that the (supreme) One alone possesses omnipotence, and unhampered free will, while in other beings (free will and opportunity) either ignore each other, or conflict? We shall therefore have to determine the nature of free will in first rank beings (the divinities) and also the supreme Principle (the One), although we acknowledge that both of them are omnipotent. Besides, in respect to this omnipotence, we shall have to distinguish possibility from actualization, present or future.

FREE WILL MUST BE FOR MEN, IF IT IS TO BE FOR THE DIVINITIES.

Before attacking these questions, we must, as is usual, begin by examining whether we ourselves possess freedom of will. First then, in what sense do we possess free will (or responsibility, “that something depends on us”); or rather, what conception we should form of it? To answer this question will be the only means of arriving at a conclusion about whether or not freedom of will should be ascribed to the divinities, let alone (the supreme) Divinity. Besides, while attributing to them freedom of will, we shall have to inquire to what it applies, either in the other beings, or in the Beings of the first rank.

RESPONSIBILITY DEPENDS ON VOLUNTARINESS.

What are our thoughts when we inquire whether something depends on us ? Under what circumstances do we question this responsibility? We ask ourselves whether we are anything, and whether really anything depends on us when undergoing the buffets of fortune, of necessity, of violent passions that dominate our souls, till we consider ourselves mastered, enslaved, and carried away by them? Therefore we consider as dependent on ourselves what we do without the constraint of circumstances, necessity, or violence of passions — that is, voluntarily, and without an obstacle to our will. Hence the following definition: We are responsible for that which depends on our will, which happens or which is omitted according to our volition. We indeed call voluntary what we unconstrainedly do and consciously. On us depends only that of which we are the masters to do or not to do. These two notions are usually connected, though they differ theoretically. There are cases when one of them is lacking; one might, for instance, have the power to commit a murder; and nevertheless if it were one’s own father that he had ignorantly killed, it would not be a voluntary act. In this case, the action was free, but not voluntary. The voluntariness of an action depends on the knowledge, not only of the details, but also of the total relations of the act. Otherwise, why should killing a friend, without knowing it, be called a voluntary action ? Would not the murder be equally involuntary if one did not know that he was to commit it? On the contrary hypothesis, it may be answered that one had been responsible for providing oneself with the necessary information; but nevertheless it is not voluntarily that one is ignorant, or that one was prevented from informing oneself about it.

MacKenna

1. Can there be question as to whether the gods have voluntary action? Or are we to take it that, while we may well enquire in the case of men with their combination of powerlessness and hesitating power, the gods must be declared omnipotent, not merely some things but all lying at their nod? Or is power entire, freedom of action in all things, to be reserved to one alone, of the rest some being powerful, others powerless, others again a blend of power and impotence?

All this must come to the test: we must dare it even of the Firsts and of the All-Transcendent and, if we find omnipotence possible, work out how far freedom extends. The very notion of power must be scrutinized lest in this ascription we be really making power identical with Essential Act, and even with Act not yet achieved.

But for the moment we may pass over these questions to deal with the traditional problem of freedom of action in ourselves.

To begin with, what must be intended when we assert that something is in our power; what is the conception here?

To establish this will help to show whether we are to ascribe freedom to the gods and still more to God, or to refuse it, or again, while asserting it, to question still, in regard both to the higher and lower – the mode of its presence.

What then do we mean when we speak of freedom in ourselves and why do we question it?

My own reading is that, moving as we do amid adverse fortunes, compulsions, violent assaults of passion crushing the soul, feeling ourselves mastered by these experiences, playing slave to them, going where they lead, we have been brought by all this to doubt whether we are anything at all and dispose of ourselves in any particular.

This would indicate that we think of our free act as one which we execute of our own choice, in no servitude to chance or necessity or overmastering passion, nothing thwarting our will; the voluntary is conceived as an event amenable to will and occurring or not as our will dictates. Everything will be voluntary that is produced under no compulsion and with knowledge; our free act is what we are masters to perform.

Differing conceptually, the two conditions will often coincide but sometimes will clash. Thus a man would be master to kill, but the act will not be voluntary if in the victim he had failed to recognise his own father. Perhaps however that ignorance is not compatible with real freedom: for the knowledge necessary to a voluntary act cannot be limited to certain particulars but must cover the entire field. Why, for example, should killing be involuntary in the failure to recognise a father and not so in the failure to recognise the wickedness of murder? If because the killer ought to have learned, still ignorance of the duty of learning and the cause of that ignorance remain alike involuntary.