Poema de Parmênides – Fragmento 8

EUDORO DE SOUSA

8. «Só resta falar de um caminho da inquirição: ‘o que é’. Neste há muitos sinais de que ‘o que é’ não foi gerado nem há-de perecer, pois aí está como um todo, único, inabalável, completo. Nunca ele foi nem será, porque é agora todo ele, um só, contínuo. Pois que origem querias que ele houvesse tido? Como, donde teria ele crescido? Nem consinto que digas ou penses que originado ele foi do que não é, pois nem pensar nem dizer se pode que ‘o que não é’, é. Demais, originado que fosse o ser do não-ser, que necessidade o teria feito começar depois, e não, antes? Assim, ou ele é todo ele, ou não é. Nunca a força da persuasão consentirá que ao lado do não-ser outra coisa nasça (senão o não-ser). Eis porque jamais a Dike redimiu os vínculos da geração e da corrupção, e tão firmes os mantém. E só nisto recai o juízo: o (ente) é ou não é. Condenado necessariamente resulta um dos caminhos, porque impensável e inefável pois não é esse o verdadeiro — e, eleito, o outro, o único caminho da verdade. Como poderia ‘o que é’ vir a deixar de ser? E como poderia ele ter chegado a ser? Se foi, não é; nem é, se vier a ser. Portanto, extinta está a geração, e abolida, a corrupção. E indivisível é (‘o que é’), pois todo ele é idêntico. Não há aqui um ser mais forte ou ali um ser mais fraco — o que romperia a coesão do todo. Não, tudo está repleto do mesmo (ser). Por isso, todo ele é contínuo, pois ‘o que é’ é contíguo a ‘o que é’. E imóvel; inalterável dentro dos limites de poderosos vínculos, sem princípio nem fim. Porque a geração e a corrupção para muito longe foram banidas pela verdade persuasiva. Como o mesmo, no mesmo persistindo, ele jaz em si (mesmo), sempre no mesmo lugar permanecendo. A poderosa Ananké o mantém nas vigorosas cadeias que o circundam. E é por isso que não pode ‘o que é’ ser infinito; pois de nada carece. Infinito que fosse, de tudo careceria. O mesmo é o pensar e aquilo por virtude do que o pensamento é; porque, apartado do ser, no qual o pensamento se expressa, nunca encontrarás o pensar. E não há nem jamais haverá o quer que seja, fora de ‘o que é’, porque a Moira o agrilhoou de modo a que permanecesse inteiro e imóvel. Eis porque (simples) nome será o que os mortais em sua linguagem fixaram, persuadidos de que era verdadeiro: geração e corrupção, ser e não-ser, mudança de lugar e câmbio de brilhantes cores. Mas havendo limites últimos, completo é (‘o que é’), de todos e por todos os lados comparável a bem arredondada bola, igualmente equilibrada do centro para toda a periferia. E impossível, então, que algo seja, aqui ou ali, maior ou mais fraco. Pois nem é o não-ser, que obste à igual extensão do ser, nem ‘o que é’ poder ser mais aqui e menos ali — inviolável que todo ele é. Igual a si mesmo de todos e por todos os lados, igualmente vai tocar os próprios limites.

Assim termino este fidedigno discorrer e pensar acerca da verdade. Doravante aprende a conhecer as opiniões dos mortais, escutando o ilusório arranjo de minhas palavras. Pois convieram os mortais em nomear duas formas, das quais não é permitido nomear uma só — no que andam errados — e estabelecer opostas figuras, as caraterísticas apartando, de cada uma: de um lado o etéreo fogo, doce, subtil, a si mesmo sempre igual, mas à outra não idêntica; e a outra não é senão a contrária: a sombria Noite, figura grave e espessa. Tal a ordem que te anuncio, de todo verosímil, para que jamais te ultrapasse alguma opinião dos mortais.»

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