ESTRANGEIRO — Pode ser. Recomecemos, então, dividindo a arte de criar coletivamente. Talvez, uma vez terminada a pesquisa, ela te mostre o que desejas saber. A propósito dize-me uma coisa. . .
SÓCRATES, O JOVEM — Quê?
ESTRANGEIRO — Sei que pessoalmente não observaste a domesticação dos peixes no rio Nilo ou nos aquários reais mas, talvez, já ouviste falar muitas vezes dessa criação. É possível, porém, que a tivesses visto nas fontes.
SÓCRATES, O JOVEM — Sim, nas fontes vi pessoalmente; e ouvi o que muitos contaram a respeito das outras.
ESTRANGEIRO — Ouviste e acreditaste que há criação de gansos e grous apesar de não teres passeado pelos campos da Tessália.
SÓCRATES, O JOVEM — Como não?
ESTRANGEIRO — Perguntei tudo isso porque na arte de criação em rebanhos existem animais que são aquáticos e outros terrestres.
SÓCRATES, O JOVEM — Exatamente.
ESTRANGEIRO — Não achas que a ciência da criação em rebanho deve ser dividida em duas partes, uma delas correspondendo à criação na água, e outra à criação em terra?
SÓCRATES, O JOVEM — Concordo.
ESTRANGEIRO — Não será necessário examinar a que grupo pertence a arte regia pois que isso é evidente a qualquer homem?
SÓCRATES, O JOVEM — Como não?
ESTRANGEIRO — Qualquer pessoa saberá dividir a criação em rebanhos feita em terra firme.
SÓCRATES, O JOVEM — Como?
ESTRANGEIRO — Eu distinguiria entre seres que voam e seres que andam sobre a terra.
SÓCRATES, O JOVEM — É verdade.
ESTRANGEIRO — Examinemos, então, se é certo que a arte política se refere aos que andam sobre a terra. Não julgas que o maior ignorante concordaria com isso?
SÓCRATES, O JOVEM — Julgo.
ESTRANGEIRO — No entanto, a arte de criar os animais que andam sobre a terra deverá ser dividida, tal como o número, em duas partes.
SÓCRATES, O JOVEM — Claro.
ESTRANGEIRO — Notamos dois caminhos que conduzem a essa subdivisão que pretendemos examinar. Um é mais curto e opõe a pequena parte à grande, enquanto o outro, embora seja mais longo, respeita o que disséramos, isto é, que se deve, sempre que possível, dividir ao meio. Podemos, todavia, tomar o caminho que desejarmos.
SÓCRATES, O JOVEM — Como? Não é possível tomar os dois caminhos?
ESTRANGEIRO — Simultaneamente, não, admirável amigo. Mas claro que é possível ir primeiro por um e depois por outro.
SÓCRATES, O JOVEM — Então, decido. Percorreremos os dois, tomando, inicialmente, um, depois o outro.