ESTRANGEIRO — Prossigamos no raciocínio e examinemos a causa, como dissemos, de todos esses prodígios. Ele consiste no seguinte:
SÓCRATES, O JOVEM — Em quê?
ESTRANGEIRO — Na rotação do universo que ora se faz no sentido atual, ora em sentido oposto.
SÓCRATES, O JOVEM — Como?
ESTRANGEIRO — Essa mudança de sentido deve ser considerada como a mais importante e mais perfeita das variações a que está sujeito o universo, o maior e o mais completo.
SÓCRATES, O JOVEM — Isso é claro.
ESTRANGEIRO — Logo, deveremos supor que naquela época é que se produziram as transformações mais importantes para nós que residimos e vivemos no seu interior.
SÓCRATES, O JOVEM — É claro.
ESTRANGEIRO — Mas não sabemos, também, que é com grande dificuldade que a natureza dos seres vivos suporta mudanças profundas, numerosas e diversas ao mesmo tempo?
SÓCRATES, O JOVEM — Sim.
ESTRANGEIRO — Nessas ocasiões é fatal que a morte faça as suas maiores devastações entre os seres vivos, reduzindo, especialmente, o gênero humano a um número ínfimo de sobreviventes. Ao realizar-se a inversão do movimento atual, os que sobrevivem sofrem toda espécie de estranhos e insólitos acidentes, dos quais o mais grave, que se deve à mudança de sentido do movimento do universo, é este:
SÓCRATES, O JOVEM — Qual?