POL 284d-285c: Duas formas da arte de medir: exatidão matemática e supra-matemática

ESTRANGEIRO — A de que o princípio de que falamos ser-nos-á necessário um dia para demonstrar em que consiste a exatidão em si. Entretanto, limitando-nos àquilo que, para nosso propósito atual, se acha bem e suficientemente provado, creio que encontramos magnífico auxílio neste raciocínio, que declara igualmente certas as duas afirmativas: de um lado, a de que todas as artes são realidades, e, de outro, a de que o grande e o pequeno são avaliados não somente por sua relação recíproca mas também com relação ao estabelecimento da justa medida. Pois, se esta última relação existe, as artes existem também, e se as artes existem, esta relação existe; abolida uma destas existências, a outra jamais será possível.

SÓCRATES, O JOVEM — Exatamente. E depois?

ESTRANGEIRO — Evidentemente, para dividir a arte de medir da maneira que falamos teríamos que distinguir apenas duas partes: de um lado colocaríamos todas as artes para as quais o número, os comprimentos, as profundidades, larguras e espessuras se medem por seus opostos, e de outro, todas aquelas que se referem à justa medida, a tudo aquilo que é conveniente, oportuno e devido, a tudo que conserva o meio entre dois extremos.

SÓCRATES, O JOVEM — Mencionaste duas divisões amplas que diferem grandemente entre si.

ESTRANGEIRO — Na realidade, Sócrates, estamos precisamente a ponto de dizer novamente essa expressão que muitos sábios se aprazem em repetir como profunda máxima: que a ciência da medida se aplica a todas as coisas que se transformam. Pois todas as obras de arte participam de algum modo da medida. Mas as pessoas não estão habituadas a dividir as coisas em espécies a fim de estudá-las; assim, por diferentes que sejam essas espécies de medida, elas se identificam, desde logo, sob o pretexto de julgá-las semelhantes, cometendo o erro inverso com relação a outras coisas por não dividi-las em suas partes. A regra exata seria, quando nos apercebemos de que um certo número de coisas possui algo em comum, não abandoná-las antes de haver distinguido, naquilo que tem em comum, todas as diferenças que constituem as espécies; e, com relação às dessemelhanças de toda espécie, que podemos observar numa multidão, não nos desencorajarmos nem delas nos separarmos, antes de havermos reunido, em uma única similitude, todos os traços de semelhança que elas encerram, reunindo-as na essência de um gênero. Basta o que fica dito quanto a esse problema e quanto às faltas e aos excessos: observemos apenas que aqui encontramos dois gêneros de medida, lembrando-nos dos caracteres que lhes atribuímos.

SÓCRATES, O JOVEM — Não os esqueceremos.