ESTRANGEIRO — E então? Alguma dessas constituições será exata se definirmos simplesmente por estes termos: “um, alguns, muitos — riqueza ou pobreza — opressão ou liberdade — leis escritas ou ausência de leis”?
SÓCRATES, O JOVEM — Nada o impede, realmente.
ESTRANGEIRO — Pensa melhor, atendendo a este ponto de vista.
SÓCRATES, O JOVEM — Qual?
ESTRANGEIRO — O que dissemos de início subsistirá ainda, ou já não estamos mais de acordo?
SÓCRATES, O JOVEM — A que te referes?
ESTRANGEIRO — Que o governo real depende de uma ciência. Creio que o dissemos.
SÓCRATES, O JOVEM — Sim.
ESTRANGEIRO — E não de qualquer ciência; mas de uma ciência crítica e diretiva, mais do que de qualquer outra.
SÓCRATES, O JOVEM — Sim.
ESTRANGEIRO — Nesta ciência diretiva, havíamos distinguido entre a direção das obras inanimadas e a dos seres vivos, e procedendo sempre por esse modo de divisão, chegamos ao ponto em que estamos, no qual não perdemos de vista a ciência mas não nos tornamos capazes de defini-la com precisão suficiente.
SÓCRATES, O JOVEM — É exato.
ESTRANGEIRO — Ora, para sermos consequentes aos nossos princípios, não nos apercebemos de que o caráter que deve servir para distinguir essas constituições é a presença de uma ciência, e não a “liberdade” ou a “opressão”, a “pobreza” ou a “riqueza”, “alguns” ou “muitos”?
SÓCRATES, O JOVEM — Nem se pode pretender de outra forma.