POL 305e-310e: A constituição do tecido social

ESTRANGEIRO — Não gostaríamos de utilizar nosso paradigma de tecedura para explicar, por sua vez, a política, agora que possuímos uma visão clara de todos os gêneros contidos na cidade?

SÓCRATES, O JOVEM — Certamente.

ESTRANGEIRO — Nesse caso, é a função real de entrelaçamento que é necessário descrever, ao que parece: sua natureza, sua maneira de entrelaçar, e a qualidade do tecido que ela assim nos oferece.

SÓCRATES, O JOVEM — Evidentemente.

ESTRANGEIRO — A que demonstração difícil nos propusemos, ao que vejo!

SÓCRATES, O JOVEM — É necessário fazê-la, todavia, custe o que custar.

ESTRANGEIRO — Que uma parte da virtude seja, em certo sentido, diferente de uma outra espécie da virtude, eis o que oferece, com efeito, bela matéria de contenda aos trapaceiros do discurso que apelam para as opiniões populares.

SÓCRATES, O JOVEM — Não compreendo.

ESTRANGEIRO — Explicar-me-ei de outro modo. Creio que tu encaras a coragem como constituindo, para nós, uma parte da virtude.

SÓCRATES, O JOVEM — Perfeitamente.

ESTRANGEIRO — Entretanto, a sabedoria é uma coisa diferente da coragem, embora seja também uma parcela da virtude.

SÓCRATES, O JOVEM — Sim.

ESTRANGEIRO — Muito bem. Ousemos, pois, dizer, a esse respeito, uma coisa que causará admiração.

SÓCRATES, O JOVEM — O quê?

ESTRANGEIRO — É que ambas são, num certo sentido, grandemente inimigas uma da outra, opondo-se em facções adversas em muitos dos seres nos quais residem.

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