POL 310e-311c: Epílogo

ESTRANGEIRO — Eis, pois, a que laços eu me referia, dizendo que não seriam absolutamente difíceis de formar, desde que essas duas raças tivessem a mesma opinião sobre o bem e o mal. E aqui está, pois, a verdadeira função dessa arte real de tecedura: jamais permitir o estabelecimento do divórcio entre o caráter moderado e o caráter enérgico, antes uni-los pela comunidade de opiniões, honras e glórias, pela troca de promessas, para fazer deles um tecido flexível e, como se diz, bem cerrado, confiando-lhes sempre em comum as magistraturas nas cidades.

SÓCRATES, O JOVEM — Como?

ESTRANGEIRO — Onde for necessário um único chefe, escolher um que tenha esse duplo caráter; onde são necessários muitos, formar partes iguais das duas naturezas. As pessoas de temperamento moderado são, com efeito, circunspectas, justas, pouco propensas a se aventurarem, mas falta a elas a agudeza e essa espontaneidade que é própria à ação.

SÓCRATES, O JOVEM — Isso também parece verdadeiro.

ESTRANGEIRO — Os enérgicos, por sua vez, têm menos respeito à justiça e à prudência; mas quando se trata de agir possuem mais espontaneidade que ninguém. Assim, é impossível que tudo corra bem nas cidades, para os particulares e para o Estado, se esses dois caracteres não estiverem associados.

SÓCRATES, O JOVEM — Evidentemente.

ESTRANGEIRO — Eis, pois, terminado em perfeito tecido o estofo que a ação política urdiu quando, tomando os caracteres humanos de energia e moderação, a arte real congrega e une suas duas vidas pela concórdia e amizade, realizando, assim, o mais magnífico e excelente de todos os tecidos. Abrange, em cada cidade, todo o povo, escravos ou homens livres, estreita-os todos na sua trama e governa e dirige, assegurando à cidade, sem falta ou desfalecimento, toda a felicidade de que pode desfrutar. SÓCRATES, O JOVEM — Excelente retrato, estrangeiro, que terminas, agora, do homem real e do homem político.