Prometeu

gr. Προμηθεύς, Prometheus

Meunier

Se a criação da primeira mulher foi obra do divino ferreiro, foi também a um Gênio do fogo, Prometeu, que coube a tarefa de criar o primeiro homem. Como Hefestos, Prometeu serviu-se do limo e da terra para modelar o corpo do primeiro ser humano; mas, em lugar de molhar a argila com água, dizem que foi com lágrimas que a destemperou. O homem saiu de suas mãos nu, indefeso e sem armas. Condenados, desde seu nascimento, aos tormentos e aos cuidados, os primeiros homens não tinham, para nutrir-se, senão frutas cruas e carnes sangrentas. Para vestir-se, cobriam-se de folhagens. Ignorando o bem-estar que proporciona o fogo que arde no fundo dos átrios, tinham como abrigo apenas buracos sem sol, grutas profundas para as quais, semelhantes a formigas, de corpo comprido e franzino, eles se arrastavam para passar a noite. Tomado de piedade por sua miséria, Prometeu, para colocar os homens em situação de viver melhor, de defender-se com armas eficazes contra as feras, de cultivar com instrumentos adequados a nutriente Terra, resolveu dar-lhes o fogo e ensinar-lhes, com a arte de trabalhar os metais, os meios de escapar à sua deplorável e lamentável sorte.

Carregando o nártex, caule oco enchido com a medula de uma alta planta, chamada férula, Prometeu dirigiu-se a Lemnos. Aproximando-se das forjas abrasadoras de Hefestos, roubou uma centelha do fogo que fundia os metais, colocou-a no oco da férula e levou-a, como oferenda, aos homens. A humanidade desde então conheceu, com o fogo, a felicidade de viver melhor, de comer um alimento menos selvagem, de aquecer-se, de receber a luz. Mas, em sua alegria imoderada, ela julgou-se igual aos poderes divinos, esquecendo seus deveres para com os mesmos. Zeus, então, que não quer que os homens saiam dos justos limites, colocando seus desejos mais altos que seus destinos, resolveu castigar aquele cujo roubo havia ocasionado esta presunção sacrílega. Transportou Prometeu para o mais alto cume do Cáucaso e mandou Hefestos pregar o Titã a um rochedo escarpado. Contra a vontade, o divino ferreiro obedeceu.

— Vê, ó Prometeu, — disse-lhe ele — estes martelos, estes anéis de ferro, estas correntes! Para a tua infelicidade e para a minha, vou pregar-te neste cume selvagem. Não ouvirás mais nenhuma voz humana e aqui jamais verás passar o rosto da piedade e da consolação. Ressequido pelos raios abrasadores do Sol, verás murchar a flor do teu corpo. Muito tarde para ti, a Noite virá esconder o dia sob seu manto de estreias, e muito tarde também o Sol virá derreter o orvalho da manhã. Sentinela inquieta e dolorosa, ficarás neste medonho rochedo, sem repouso, sem sono, sem dobrar os joelhos o sem cessar de soltar mil gemidos inaudíveis e vãos.

Hefestos, então, passou os anéis de uma inquebrável corrente aos pés e aos braços do infeliz Prometeu e fixou-os solidamente ao rochedo. Para cúmulo do infortúnio, todas as manhãs, uma águia de asas abertas ia pastar em seu fígado imortal, e esse monstro de garras recurvas devorava, durante o dia, tudo quanto, à noite, aí podia renascer. Esse suplício deveria durar mil anos, mas ao fim de trinta anos, Zeus, apaziguado, perdoou o culpado, consentindo então em introduzi-lo entre os Bem-aventurados. Quanto aos homens, para castigar seu enorme descomedimento no uso do fogo, Zeus os engoliu sob as vagas do dilúvio. Não se distinguia mais a Terra do Oceano e um mar sem praia espalhou-se por todas as partes. [Meunier]

Diel

Paul Diel: O SIMBOLISMO NA MITOLOGIA GREGA

O mito de Prometeu é uma continuação e uma amplificação da Teogonia. Retoma o relato da luta entre as figuras simbólicas Divindades e Titãs a partir do estabelecimento do reinado de Zeus, que é precisamente o “momento” do advento do ser consciente. O mito de Prometeu conta a história específica do despertar da consciência.

O Criador-Prometeu não é uma divindade, é um Titã e, como tal, simboliza a revolta contra o espírito. Mas Prometeu não é um dos Titãs, filhos de Urano, que, como vimos, representam na Teogonia as forças selvagens da natureza, personificação dos elementos desencadeados (fogo, água, vento) que devastam a terra ainda inabitada e que a preparam para torná-la um lugar habitável onde nascerá a vida e onde se dará sua evolução. Prometeu é um descendente tardio dos Titãs; representa uma forma mais evoluída da oposição ao espírito, não mais a revolta da Terra-mãe, da matéria (discórdia inicial), mas a revolta do desejo terrestre da matéria animada, da terra habitada por seres viventes e animados por desejos. Ora, o desencadeamento dos desejos e a revolta contra o espírito (contra o sentido evolutivo da vida) somente podem produzir-se a partir do advento do ser consciente. O Criador-Prometeu representa o princípio da intelectualização, o que é expresso por seu nome. Prometeu significa o pensamento previdente.

Uma vez que a significação geral do símbolo Prometeu-Criador foi estabelecida e suficientemente diferenciada do Criador-Espírito, devemos agora traduzir em detalhe as imagens pelas quais o mito desenvolve a história essencial da espécie humana.

O mito do Titã-Criador compõe-se de três partes:

1) a história da criação do ser consciente sujeito à banalização: a história do rapto do fogo;

2) a história da sedução do homem e de sua queda na banalização: o mito de Pandora;

3) a história do castigo de Prometeu e sua reconciliação com o espírito (Zeus).

Entendido em toda sua amplitude significativa, Prometeu é o símbolo da humanidade. Seu destino simboliza a história essencial do gênero humano: o caminho que conduz da inocência animal (inconsciente), através da intelectualização (consciente) e do perigo de seu desvio (subconsciente), até a eclosão da vida supraconsciente (Olimpo). Este caminho é simbolicamente traçado pelo ciclo dos mitos judaico-cristãos, onde o inconsciente é representado pelo Paraíso, o consciente pela vida terrestre, o subconsciente pelo inferno e o supraconsciente pelo Céu.