Paul Diel: O SIMBOLISMO NA MITOLOGIA GREGA
O mito de Prometeu é uma continuação e uma amplificação da Teogonia. Retoma o relato da luta entre as figuras simbólicas Divindades e Titãs a partir do estabelecimento do reinado de Zeus, que é precisamente o “momento” do advento do ser consciente. O mito de Prometeu conta a história específica do despertar da consciência.
O Criador-Prometeu não é uma divindade, é um Titã e, como tal, simboliza a revolta contra o espírito. Mas Prometeu não é um dos Titãs, filhos de Urano, que, como vimos, representam na Teogonia as forças selvagens da natureza, personificação dos elementos desencadeados (fogo, água, vento) que devastam a terra ainda inabitada e que a preparam para torná-la um lugar habitável onde nascerá a vida e onde se dará sua evolução. Prometeu é um descendente tardio dos Titãs; representa uma forma mais evoluída da oposição ao espírito, não mais a revolta da Terra-mãe, da matéria (discórdia inicial), mas a revolta do desejo terrestre da matéria animada, da terra habitada por seres viventes e animados por desejos. Ora, o desencadeamento dos desejos e a revolta contra o espírito (contra o sentido evolutivo da vida) somente podem produzir-se a partir do advento do ser consciente. O Criador-Prometeu representa o princípio da intelectualização, o que é expresso por seu nome. Prometeu significa o pensamento previdente.
Uma vez que a significação geral do símbolo Prometeu-Criador foi estabelecida e suficientemente diferenciada do Criador-Espírito, devemos agora traduzir em detalhe as imagens pelas quais o mito desenvolve a história essencial da espécie humana.
O mito do Titã-Criador compõe-se de três partes:
1) a história da criação do ser consciente sujeito à banalização: a Prometeu Fogo – história do rapto do fogo;
2) a história da sedução do homem e de sua queda na banalização: o mito de Pandora;
3) a história do castigo de Prometeu e sua reconciliação com o espírito (Zeus).
Entendido em toda sua amplitude significativa, Prometeu é o símbolo da humanidade. Seu destino simboliza a história essencial do gênero humano: o caminho que conduz da inocência animal (inconsciente), através da intelectualização (consciente) e do perigo de seu desvio (subconsciente), até a eclosão da vida supraconsciente (Olimpo). Este caminho é simbolicamente traçado pelo ciclo dos mitos judaico-cristãos, onde o inconsciente é representado pelo Paraíso, o consciente pela vida terrestre, o subconsciente pelo inferno e o supraconsciente pelo Céu.