Rocha Pereira
Excertos da Introdução de Maria Helena da Rocha Pereira, à sua tradução da “República”
Outros aspectos da vida da comunidade são regulamentados no Livro IV, até que, depois de relegar para o oráculo de Delfos a superintendência em matéria religiosa, Sócrates declara que, fundada a cidade, estão agora aptos a procurar «onde poderia estar a justiça e onde a injustiça»1. Ora, se a cidade é perfeita, terá de possuir as quatro virtudes, sabedoria (sophia), coragem (andreia), temperança (sophrosyne) e justiça (dikaiosyne). Definidas as três primeiras, atingir-se-á a quarta por exclusão de partes. Se a primeira se encontra nos guardiões, a segunda nos guerreiros e a terceira na harmonia geral de todas as classes, a justiça será que cada um exerça uma só função na sociedade, aquela para a qual, por natureza, foi mais dotado (433a). Resta verificar se estas conclusões, vistas nas «letras grandes», são aplicáveis ao indivíduo. Ora a cidade tinha três classes: os guardiões, os militares e os artífices. Também a alma do indivíduo tem três elementos2: apetitivo, espiritual e racional. Aos apetites cabe obedecer, às emoções assistir, à razão governar, «E assim assentamos suficientemente em que existem na cidade e na alma dos indivíduos os mesmos elementos, e no mesmo número»3. O seu equilíbrio ou desequilíbrio conduzem à justiça ou à injustiça, É esse o aspecto que falta estudar.
Francis Wolff
- E) Os deveres dos Guardiões (IV, 421c – 427c)
- Deve-se preservar o Estado do enriquecimento ou do empobrecimento excessivos, causas de enfraquecimento
Deve-se preservar a unidade do Estado impedindo-o de crescer e defender os princípios de divisão do trabalho e de mobilidade social
Deve-se sobretudo preservar um sistema estável de educação, uma legislação geral (notadamente no domínio religioso)
- Deve-se preservar o Estado do enriquecimento ou do empobrecimento excessivos, causas de enfraquecimento
- Conclusão da parte I: a justiça no Estado e no indivíduo
- No Estado
- O Estado assim fundado é
- sábio por sua cabeça (os governantes dão prova de “prudência”na sua função deliberativa)
- corajoso por seus guerreiros (os “Auxiliares”)
- moderado (mestre de si) pelo acordo que reina entre as classes (o melhor comando o pior)
- O Estado portanto é justo: cada um aí cumpre sua função própria
- O Estado assim fundado é
- No indivíduo
- A justiça no indivíduo deve ser análoga àquela do Estado
Donde: as partes da alma: assim como há três classes no Estado (governantes, guerreiros, trabalhadores e artesãos), correspondendo a três funções, há três partes na alma: a “razão, o ardor, e o desejo (436a-441c)
As virtudes da alma:
- as partes da alma podem entrar em conflito mas também estar em harmonia, no indivíduo justo, quando cada uma faz somente sua própria tarefa sem transbordar sobre aquela das outras
Da mesma maneira a injustiça não é, mais que a injustiça, um comportamento a respeito dos outros, mas uma desordem (desacordo) interior da alma, uma doença da alma arruinadora para aquele mesmo que dela é atingido.
Resta a estudar, as diferentes formas do vício (no Estado e no indivíduo) – cujo estudo só começará no final do livro
- A justiça no indivíduo deve ser análoga àquela do Estado
- No Estado
Eggers Lan
LIBRO IV
419a La felicidad de la clase gobernante y la sociedad
Adimanto: los gobernantes, teniendo todo en su mano para ser dichosos, no podrán así disfrutar como los de otros Estados. Sócrates: no debemos mirar a la felicidad de los guardianes, sino a la de toda la sociedad.
421d La pobreza y la riqueza de los ciudadanos
No debe haber gente rica ni pobre, ya que, si es rica, no se ocupará de su trabajo, y si es pobre, no podrá realizarlo bien, Y si en una guerra se combate contra un Estado en que hay ricos y pobres, se les ofrecerá a éstos la fortuna de los ricos a cambio de su alianza, ya que en este Estado no interesa la riqueza.
427d Las partes de la excelencia en el Estado
Para saber si se halla la justicia en el Estado, bastará con examinar sí están presentes las otras tres partes de la excelencia: la sabiduría (sophía) la moderación (sophrosýne) y la valentía (andreía). El Estado es sabio no por el conocimiento de alguna cuestión particular, sino por el de su totalidad, que es el apropiado para ja vigilancia que está presente en los guardianes. El Estado es valiente si lo es aquella parte suya que va a la guerra por su causa. El Estado es moderado cuando gobernantes y gobernados coinciden en quiénes deben gobernar así la mejor parte gobierna a la peor.
432b La justicia en el Estado bien fundado
Es lo que resta para que el Estado alcance la excelencia: consiste en que cada uno haga lo que le corresponde en el Estado.
436a Las partes del alma
¿Están presentes en el individuo las mismas clases que en el Estado? ¿Hablamos de géneros distintos, cuando decimos que por medio de uno aprendemos, por otro somos fogosos y por otro anhelamos placeres?
436c El principio de contradicción
Una misma cosa no produce ni padece efectos contrarios en el mismo sentido, con respecto a lo mismo y al mismo tiempo; no debemos confundirnos cuando una cosa parece una y resulta múltiple.
437b Las partes del alma (continuación)
Si alguien tiene sed, es debido a la parte irracional (alógiston) y apetitiva (epithymetikón) del alma, pero puede no querer beber a causa del razonamiento (logismós). La fogosidad (thymós) pasa a veces por semejante a la apetitiva, pero cuando uno se encoleriza contra los propios deseos se ve que no es así; tampoco se identifica con la parle racional (logistikón), ya que uno puede entusiasmarse irracionalmente y ser llamado al orden por la razón. Por tanto, son tres géneros distintos.
441c Funciones de las partes del alma
Así como el Estado es justo cuando las tres clases hacen cada una lo suyo, lo mismo con el individuo: al raciocinio corresponde mandar y a la fogosidad ser su servidor y aliado. El individuo es valiente cuando la fogosidad se atiene a lo prescrito por la razón, es sabio por la parte racional y es moderado por la amistad y concordia de estas partes entre sí.
G.R.F.Ferrari
419a: Adeimantus objects: Will the guardians be happy (419a)? Socrates explains that the task is to make the whole city happy, not any particular group within it (420b). He mentions further requirements if the city as a whole is to be happy: both its wealth (421d) and its size (423b) must be limited. He emphasises once more the importance of education (423e), and urges conservatism when it comes to amending laws (425e). For its religious rituals the city can defer to the traditional authorities (427b). – 427d: Now that the city has been theoretically established, discussion turns to its justice. Socrates proposes that its justice will be what remains after its wisdom, courage and self-discipline have been identified (427e). The city’s wisdom is located in its ruling class (428b); its courage is located in the army (429a); and its self-discipline consists in the fact that its subjects are willing to be ruled by those best suited to rule (430d). Its justice, finally, is a matter of each class performing its proper function (432b). – 434d: The corresponding virtues in the individual are now to be identified. First, the general correspondence between city and individual is defended (435a), prompting the question whether the three elements in the soul, corresponding to the three classes in the city, have distinct functions (436b). Socrates distinguishes the function of the rational from that of the desiring element (439a), and that of the spirited element from each of the others in turn (439e, 440e). He explains how the virtues of the individual correspond in their elements and their structure to those of the city (441c). An individual is just when each of the elements internal to his soul performs its proper function (442d). This account is compatible with conventional beliefs (442e). Justice, then, is a healthy balance of the soul’s components, and injustice an unhealthy imbalance (444e). – 445a: Socrates now comes to the question which Glaucon and Adeimantus originally asked him to answer: which is more profitable, justice or injustice? A proper response will require examination of the various unjust societies and of the unjust individuals that correspond to each.
IV. 472d. ↩
É ponto controverso, se Platão dividiu a alma em partes. A palavra «elementos», por mais vaga, é preconizada por Cross e Woozley, Plato’s Republic. A Philosophical Commentary, pp. 127-128, tanto mais que, como notam esses autores, a psicologia tinha a dificuldade enorme de se exprimir «numa linguagem que tinha sido primariamente destinada ou tinha sido principalmente desenvolvida para a finalidade, completamente diferente, de falar sobre o mundo exterior» (p. 128). ↩
IV. 441c. Tem sido objeto de acesa discussão saber até onde Platão aceitava esta identidade e se, para ele, o ponto de partida era da cidade para o indivíduo ou do indivíduo para a cidade. Apesar de a ordem seguida na República ser a primeira, supomos, como Cross e Woozley, op. cit., p. 131, que era a segunda que ele tinha em mente. ↩