República IX

Rocha Pereira

Excertos da Introdução de Maria Helena da Rocha Pereira, à sua tradução da “República

A descrição do ponto mais baixo a que chegou a degradação humana põe de novo a questão inicial da felicidade e virtude de cada uma destas espécies, em relação com as qualidades que predominam na cidade1, com a conclusão de que o tirano, escravo dos mais sórdidos prazeres e apetites, é o que mais se opõe ao filósofo-rei, que tem acesso aos prazeres puros e reais, e de que é a justiça, e não a injustiça, que traz vantagens a quem a pratica.

Ao terminar o Livro IX, Gláucon reconhece que a cidade que acabam de delinear é utópica. Mas, objeta Sócrates, fica o paradigma no céu, para quem quiser contemplá-lo e estabelecer por ele o seu teor de vida. Quer a cidade exista, quer não, é só a esse modelo que o filósofo seguirá.

Francis Wolff

  • 5 A tirania
    • O excesso de liberdade e desprezo das leis fazem passar da democracia à tirania
      • passa-se de um extremo (a liberalidade) ao outro (a servidão)

      O povo escolhe para defendê-lo dos ricos um homem a que concede todos os poderes e uma guarda pessoal

      O tirano cresce este exército e a redireciona contra o povo

      O homem tirânico é dominado pelo desejos desregrados (aqueles que se manifestam no sono, a loucura ou sob o império da bebida)

      Ele é ele mesmo tiranizado por seus desejos eróticos e extermina tudo o que lhe faz obstáculo; a vida criminal do homem tirânico

  • B) Quem , do homem justo ou injusto (do filósofo ou do tirano) é o mais feliz?
    • Primeira prova, política
      • se o indivíduo se assemelha a um cidade (analogia entre a estrutura da alma e aquela do Estado), o homem tirânico é ele mesmo tiranizado por seus desejos e seus medos, que são mestres dele

        ele é o menos livre (ele está sob o império de suas paixões)

        ele é o menos rico (ninguém é rico cujos desejos não podem ser jamais satisfeitos)

        ele é o que tem menos segurança (vive no medo)

        então, ele é o mais infeliz

      Segunda prova, psicológica

      • a comparar as duas vias a respeito do prazer, o melhor juiz é o filósofo, único a ter feito a experiência do prazeres particulares às três partes da alma, que têm cada uma sues desejos próprios

      Terceira prova, filosófica

      • os prazeres os mais sensuais são impuros, pois eles são ilusoriamente exagerados pelo sofrimento dos quais procedem

        as satisfações intelectuais são puras e também mais reais (na proporção da realidades de seus objetos).

        o tirano, acorrentados aos desejos os mais baixos, é o mais afastado dos prazeres puros e reais acessíveis unicamente ao filósofo

      Conclusão (e resposta final à afirmação inicial de Glaucon (360e), segundo a qual a injustiça é vantajosa, se ela não é punida)

      • o homem, forma única que recobre três figuras
        • a de um monstro de cabeças múltiplas
        • a de um leão
        • a de um homem

        a honestidade submete a parte bestial da parte humana (ou divina) e a desonestidade submete a parte doce à parte selvagem

        o sábio realiza nele a Cidade ideal

Eggers Lan

LIBRO IX
571a El hombre tiránico

En el hijo del hombre democrático hay deseos reprimidos, que, a más de innecesarios, son contrarios a toda norma; los forjadores de tiranos estimulan éstos; así las opiniones morales anteriores son sometidas por otras que, cuando está interiormente regido de modo democrático, sólo se liberaban durante el sueño; no se arredrará ante crimen alguno.

576b Primera prueba de la superioridad del justo sobre el injusto

El hombre tiránico es el más injusto y, si llega a gobernar solo mucho tiempo, es el más desdichado; es el que menos hace lo que quiere; está forzado a La adulación y al servilismo.

550d Segunda prueba

Según la parte del alma que predomine, hay tres tipos de hombres: el filósofo, el ambicioso y el amante del lucro. Subyacentes a cada uno de estos tipos hay tres clases de placeres. El filósofo es el que mayor experiencia tiene en estas tres clases. Por lo tanto, su modo de vida es el más agradable.

583b Tercera prueba

El estado en que no se sufre es intermedio entre el placer y el dolor. Pero cuando se ignora el verdadero placer se toma por placer la cesación del dolor. Cuando el alma sigue a la parte filosófica, cada una de las partes hace lo que le corresponde y obtiene los placeres que le son propios. El hombre tiránico, en cambio, somete la parte racional a la apetitiva. Por ende, el tirano vive del modo más desagradable y el rey del más agradable. El tirano está alejado del verdadero placer en una cantidad que es el triple del triple.

588b La justicia es más ventajosa que la injusticia

El que comete injusticia esclaviza lo mejor de sí, y, si la oculta y no la expía, se vuelve más perverso.

G.R.F.Ferrari

571a: The tyrannical individual. How he becomes tyrannical, and what his character is (573c). Socrates demonstrates this individual’s unhappiness by applying the correspondence between city and individual (576c). Unhappiest of all is the tyrannical individual who becomes tyrant of a city (578b). Socrates concludes this first proof that the just are happier than the unjust with a final ranking of the individual characters in respect of happiness (580b). – 580d: Second proof that the just are happier than the unjust. Socrates distinguishes three fundamental human types, the lovers of wisdom, of honour, and of profit, and argues that we should trust the wisdom-lover’s judgment that his way of life is the most pleasant. – 583b: Third proof that the just are happier than the unjust. Socrates analyses the nature of pleasure. Relief from pain can seem pleasurable (583c), and most, even if not all, bodily pleasures are no more than a relief from pain (584b). The only truly fulfilling pleasure, by contrast, is that which comes from understanding (585b). – 586d: Socrates concludes with the claim that each element in the soul can find its proper pleasure if the part that loves wisdom is in control. He calculates the multiple by which the best life is more pleasant than the worst (587a). He offers a final vindication of justice with the help of a comparison between the soul and an imaginary creature of multiple form (588b).


  1. IX. 577c.