Schelling: A mitologia e os mistérios

Resumo do Frei Hermógenes Harada, de Schelling – Filosofia da Revelação

  • A mitologia é um processo teogônico que acontece na consciência do homem;
  • O processo teogônico visa a reconstituição da unidade da consciência humana, desde os primórdios dilacerada pelas suas divisões e dicotomias. Neste sentido, a mitologia já visa uma “filo-sofia”, isto é, um retorno ao acordo com o todo (sophos, sophia > soo: todo, inteiro, intacto). “A verdadeira filosofia visa somente o todo, e quer reconstituir a consciência na sua totalidade, integridade” (p. 611);
  • O processo é inteiramente natural, isto é, a teogonia é uma necessidade intrínseca da própria consciência humana, não uma revelação divina;
  • Uma vez que acontece somente na consciência humana, este processo só pode se anunciar ou se revelar através de representações ou de produções de representações;
  • Estas representações mitológicas não são, pois, inventadas, não são fruto de invenções poéticas, mas são representações essenciais, necessárias, para a consciência humana, dentro de sua história espiritual. Por isto, estas representações eram vistas como objetivas, ou seja, independentes do pensamento e da vontade humanas. As representações não eram imaginárias, mas eram potências reais, teogônicas, que operavam na natureza e na consciência humana. “Os deuses gregos não têm carne nem sangue como os homens reais, são como seres da pura imaginação, e, no entanto, para a consciência, têm o mais real significado, são seres reais, porque derivam de um processo real. Todo aspecto animal desapareceu; estes deuses são seres absolutamente similares ao homem, ainda que estejam por sobre a humanidade; eles representam na história do processo mitológico aquele momento da história da natureza no qual o princípio da natureza, depois da terrível luta no reino dos animais, morre no homem de uma morte doce, fascinante, verdadeiramente divinizante – por assim dizer, a morte da reconciliação por toda a natureza –; somente no homem, de fato, a inteira natureza é reconciliada”… “A mitologia grega é a morte doce, a verdadeira eutanásia do princípio real, que no seu sucumbir e desaparecer, deixa no seu lugar, ainda, um mundo belo e maravilhoso de fenômenos”… “Os deuses gregos surgem da consciência liberada do domínio do princípio real de modo doce e regular, como uma espécie de formas ou visões beatas, nas quais aquele – o princípio real – desaparece também certamente, mas ainda coopera, no seu desaparecer e desagregar-se, para dar às formas que surgem aquela realidade, aquela determinação que fazem dos deuses gregos os representantes de momentos (conceitos) necessários, eternos, duradouros, e não somente passageiros”.
  • Trata-se, portanto, de um processo involuntário e necessário, que atuava, ao mesmo tempo, na natureza e na consciência, nos primórdios da história humana, antes que a humanidade entrasse no seu período de auto-consciência. “A mitologia não deriva de premissas acidentais, empíricas, por exemplo, invenções de determinados poetas ou filósofos cosmônicos, que se poderia colocar nos tempos arcaicos, nem mesmo de erros ou mal-entendidos casuais; ela se perde, com as suas raízes, no fato primitivo;
  • O processo teogônico teve sua história e esta se reflete nas diversas mitologias da humanidade. As diversas mitologias, as dos diversos povos, são aparentadas e esboçam um certo desenvolvimento sucessivo graças a este processo que perpassou toda a humanidade. Portanto, as mitologias dos diversos povos são somente momentos da mitologia geral, ou seja, do processo teogônico em jogo em toda a história da humanidade
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