Simbolismo Prometeu Fogo

MITOLOGIA — PROMETEU — ROUBO DO FOGO

Filosofia
Paul Diel: O SIMBOLISMO NA MITOLOGIA GREGA

Compreender o sentido profundo da revolta do “Titã-Intelecto” contra o espírito, simbolizado pelo “ladrão do fogo que é trazido aos homens”, significa entrever o mais claramente possível as consequências da intelectualização e de sua tendência ao esquecimento do sentido da vida.

O fogo é bastante adequado para representar o intelecto, não somente porque permite à simbolização representar, por um lado, a espiritualização (luz) e a sublimação (calor) e, por outro, a perversão (qualidade destrutiva do fogo), mas também porque, no plano real da história evolutiva do ser intelectualizado, na história da humanidade, a descoberta do fogo (simbolicamente, o fogo trazido pelo Titã-Intelecto, Prometeu) desempenha um papel predominante, estreitamente ligado à eclosão do intelecto tanto sob sua forma positiva quanto negativa.

Todo esforço para a mudança do mundo em função das necessidades corporais do homem (tarefa do intelecto utilitário que evoluirá até a técnica e a organização) tem sua origem no domínio do fogo. Em torno do fogo se reuniam os homens primitivos, graças ao fogo tornaram-se sociáveis. A linguagem se desenvolve, condição primordial de toda civilização humana. A utilização do fogo marca um passo decisivo, senão a etapa mais importante, da intelectualização progressiva que, cada vez mais, distanciará da condição animal este ser tornado consciente, capaz de libertar-se da dominação imediata da natureza ambiente. Novas aptidões desenvolvem-se a partir dessa mutação, a mais decisiva, caracterizada pela liberação da mão em função da posição ereta. Essas novas aptidões diferenciarão definitivamente a criatura do “Titã-Intelecto” da condição animal.

Entretanto, mesmo o ser tornado consciente permanece tributário da natureza elementar, estando exposto aos principais eventos que formam o quadro de referência de toda vida: nascimento, envelhecimento, doença, morte. É sobretudo o terror diante do mistério inelutável da morte que impedirá a criatura do Titã de esquecer completamente o chamado do espírito, a orientação em relação ao sentido da vida. A imaginação religiosa se desdobrará, começando pelo culto animista do ancestral divinizado, até a criação mítica da imagem purificadora da divindade-pai, guia de todos os homens. Na chama purificadora, o homem oferecerá à divindade o sacrifício das premissas dos bens materiais, expressando assim, simbolicamente, o abandono de toda exaltação em relação aos desejos ligados à terra. Mas esta Promessa simbólica está longe de se realizar, e o fogo roubado, o fogo destrutivo (as paixões), prevalecerá sobre o impulso da chama purificadora. Guiados pela vaidade do intelecto revoltado, orgulhosos de sua capacidade inventiva e de suas criações engenhosas, os homens se imaginarão semelhantes aos deuses e, esquecidos do espírito, se banalizarão. Na medida em que a luz do espírito e o calor da alma se enfraquecem, nada mais subsistirá senão o impulso banal de beneficiar-se dos bens materiais. Entretanto, a atividade engenhosa do intelecto não se mostra suficientemente previdente, uma vez que não é mais guiada pelo espírito. O intelecto retrocede ante a multiplicação insensata dos desejos em direção à exaltação imaginativa e seu consequente ofuscamento afetivo. A perversão dos sentimentos que resulta disso impulsionará os homens à odiosa disputa pelos bens materiais, semeando assim a destruição em lugar da desejada comodidade.

Através de um traço extremamente explicativo, o mito assinala as duas significações opostas do simbolismo “fogo-intelecto”: chama purificadora e fogo roubado. Prometeu ensina os homens a enganar os deuses até mesmo nos sacrifícios sangrentos, aconselhando-os a guardar a melhor parte, oferecendo aos deuses somente as partes inferiores e os ossos. Uma vez que o sacrifício dos bens terrestres tem o valor da promessa de uma vida em conformidade com a lei do espírito, no sentido da vida que se opõe à exaltação insensata, o conselho de Prometeu mostra claramente que a revolta do intelecto incita os homens a desafiar o espírito e a deixar-se levar pela exaltação dos desejos.

Enganados pelo presente do Titã, o fogo roubado, os homens caem na tentação de enganar os deuses. Porém, conforme a lei do espírito, a tentação se voltará contra eles.