Estrangeiro – Pois então, de acordo com esse modelo, procuremos descobrir o que venha a ser sofista.
Teeteto – Perfeitamente.
Estrangeiro – A primeira questão levantada com respeito ao pescador com anzol, foi a de saber se ele deve ser tido na conta de ignorante no seu mister ou na de artista.
Teeteto – Certo.
Estrangeiro – E agora, Teeteto, com referência ao nosso homem, apresentamo-lo como ignorante ou como sofista, no sentido lato da expressão?
Teeteto – Ignorante, de jeito nenhum. Compreendo o que queres dizer: quem se adorna com aquele nome, terá de honrá-lo em toda a linha.
Estrangeiro – Sendo assim, precisaremos admitir que ele domina alguma arte.
Estrangeiro – Oh! Pelos deuses! Passou-nos despercebido que este aqui é aparentado do outro.
Teeteto – Este, qual? E de quem é parente?
Estrangeiro – O pescador de anzol; parente do sofista.
Teeteto -Como assim?
Estrangeiro – Acho que ambos são caçadores.
Teeteto -Que caça este agora persegue? Pois do pescador já falamos.
Estrangeiro – Não dividimos em duas secções a caça em geral: a dos seres que nadam e a dos que marcham?
Teeteto – Dividimos.
Estrangeiro -Na primeira, apontamos todas as espécies de animais nadantes; os que andam sobre a terra não subdividimos, contentando-nos com dizer que apresentam inúmeras formas.
Teeteto -Perfeitamente.
Estrangeiro -Até aqui, por conseguinte, o sofista e o pescador de linha trilham a mesma estrada, a da arte aquisitiva.
Teeteto – Pelo menos, é o que parece.
Estrangeiro -Porém separam-se a partir da caça aos animais: o primeiro, em direção do mar, dos rios e dos lagos, em busca dos animais que aí vivem.
Teeteto – Sem dúvida.
Estrangeiro – O outro procura a terra e correntes de vária natureza: rios de riqueza e prados pululantes de jovens, a fim de prear as criaturas aí existentes.