Sof 221c-222a: Aplicação deste método à definição do Sofista

Estrangeiro – Pois então, de acordo com esse modelo, procuremos descobrir o que venha a ser sofista.

Teeteto – Perfeitamente.

Estrangeiro – A primeira questão levantada com respeito ao pescador com anzol, foi a de saber se ele deve ser tido na conta de ignorante no seu mister ou na de artista.

Teeteto – Certo.

Estrangeiro – E agora, Teeteto, com referência ao nosso homem, apresentamo-lo como ignorante ou como sofista, no sentido lato da expressão?

Teeteto – Ignorante, de jeito nenhum. Compreendo o que queres dizer: quem se adorna com aquele nome, terá de honrá-lo em toda a linha.

Estrangeiro – Sendo assim, precisaremos admitir que ele domina alguma arte.

Teeteto – E qual poderá ser?

Estrangeiro – Oh! Pelos deuses! Passou-nos despercebido que este aqui é aparentado do outro.

Teeteto – Este, qual? E de quem é parente?

Estrangeiro – O pescador de anzol; parente do sofista.

Teeteto -Como assim?

Estrangeiro – Acho que ambos são caçadores.

Teeteto -Que caça este agora persegue? Pois do pescador já falamos.

Estrangeiro – Não dividimos em duas secções a caça em geral: a dos seres que nadam e a dos que marcham?

Teeteto – Dividimos.

Estrangeiro -Na primeira, apontamos todas as espécies de animais nadantes; os que andam sobre a terra não subdividimos, contentando-nos com dizer que apresentam inúmeras formas.

Teeteto -Perfeitamente.

Estrangeiro -Até aqui, por conseguinte, o sofista e o pescador de linha trilham a mesma estrada, a da arte aquisitiva.

Teeteto – Pelo menos, é o que parece.

Estrangeiro -Porém separam-se a partir da caça aos animais: o primeiro, em direção do mar, dos rios e dos lagos, em busca dos animais que aí vivem.

Teeteto – Sem dúvida.

Estrangeiro – O outro procura a terra e correntes de vária natureza: rios de riqueza e prados pululantes de jovens, a fim de prear as criaturas aí existentes.