Estrangeiro – Vejamos agora se o gênero por nós procurado não tem alguma semelhança com tudo isso.
Teeteto – Semelhança, de que jeito?
Estrangeiro – Já vimos que a disposição para a luta constitui uma das condições da arte aquisitiva.
Teeteto – Sem dúvida.
Estrangeiro – Então, não será fora de propósito dividi-la em duas partes.
Teeteto – Declaremos logo quais sejam.
Estrangeiro – Uma é competição; a outra, pugna.
Teeteto – Exato.
Estrangeiro – A parte da luta que se exerce corpo a corpo, pode ser natural e convenientemente aplicado o qualificativo de violenta.
Teeteto – Isso mesmo.
Estrangeiro – E a que consiste no entrechoque de discursos, que nome lhe daremos, Teeteto, se não for o de controvérsia?
Teeteto – Não há outro.
Estrangeiro – Mas o gênero da controvérsia terá, por sua vez, de ser subdividido.
Teeteto – De que maneira?
Estrangeiro – Quando o debate consta de digressões a respeito do justo e do injusto, recebe o qualificativo de forense ou judicial.
Teeteto – Certo.
Estrangeiro – Porém quando é realizado entre particulares e cortado em pedacinhos, por meio de perguntas e respostas, não temos o costume de dar-lhe o nome de contenda?
Teeteto – Não há outro.
Estrangeiro – E na contenda, a parte que consiste na mera discussão sobre contratos, sem método nem regras de arte, deve ser considerada espécie diferente, já que nossa argumentação a reconhece como tal, muito embora os antigos não lhe tenham aplicado nome, nem mereça, agora, que lhe reservemos designação especial.
Teeteto – É muito certo, pois está subdividida em pequeninas e variadas partes.
Estrangeiro – E a que é feita com arte, acerca do justo e do injusto, e de outros assuntos gerais, não temos por hábito denominar erística?
Teeteto – Como não?
Estrangeiro – Mas há uma erística que sabe ganhar dinheiro, e outra que o dissipa.
Teeteto – Perfeitamente.
Estrangeiro – Tentemos, agora, encontrar a designação adequada para cada uma.
Teeteto – Sim, façamos isso mesmo.
Estrangeiro – Para mim, a disputa levada a cabo como simples jogo verbal e com negligência dos. interesses próprios, em estilo nada agradável para a maioria dos ouvintes, na minha maneira de pensar só merece o de verbosidade.
Teeteto – É realmente como a denominam.
Estrangeiro – Por outro lado, a que junta dinheiro com discussões particulares, procura tu mesmo, agora, o nome que lhe convém.
Teeteto – Que se poderia dizer sem perigo de errar, a não ser que, pela quarta vez, nos apareceu aquele tipo estupendo, em cujo encalce nos achamos: o sofista?
Estrangeiro – Isso mesmo. Conforme já vimos, é do gênero lucrativo, da arte erística, da arte de disputas, das controvérsias, da arte do combate, da arte da luta e do ganho, segundo neste momento provou nossa argumentação, que o sofista provém.
Teeteto – Nada mais verdadeiro.