Sof 236d-242b: O problema do erro e o do Não-Ser

Estrangeiro – O fato, meu bem-aventurado amigo, é que nos metemos numa investigação espinhosíssima. Este manifestar-se e este parecer sem que o seja, o poder dizer-se o que não é verdade, sempre foi problema inextricável, assim na antiguidade como no nosso tempo. Pois afirmar que é realmente possível falar ou opinar em falso sem deixar-se colher de nenhum modo nas malhas da contradição, é o que é difícil, Teeteto, de compreender.

Teeteto – Por quê?

Estrangeiro – É que semelhante proposição se atreve a afirmar a existência do não-ser, sem o que o falso também não existiria. Parmênides, o grande, meu filho, desde o nosso tempo de criança e enquanto viveu protestou contra essa doutrina, repetindo sempre, tanto em prosa corrente como em verso:

Nunca, falou, chegarás a entender que o não-ser possa ser.

A alma conserva afastada de tais reflexões.

Aí tens seu testamento. Porém o mais certo será submeter a sentença à prova adequada. É o que teremos de ver desde já, se não te ocorrer alguma objeção.

Teeteto – Comigo não te preocupes. Pensa apenas na melhor maneira de conduzir o discurso, que eu acompanharei de perto tuas pegadas.