Sof 256d-259b: O Outro, não-ser do Ser

Estrangeiro – A esse modo, com toda a segurança, não é ser o movimento, como também é ser, visto participar da existência.

Teeteto – Certíssimo.

Estrangeiro – De onde fica também certo, necessariamente, que o não-ser está no movimento e em todos os gêneros, pois a natureza do outro, entrando em tudo o mais, deixa todos diferentes do ser, isto é, como não- ser, de forma que, sob esse aspecto, poderemos, com todo o direito, denominá-los não existentes, e o inverso: afirmar que são e existem, visto participarem da existência.

Teeteto – É possível.

Estrangeiro – Em cada ideia, pois, há muitos seres e uma multidão incontável de não-seres.

Teeteto – Parece.

Estrangeiro – Logo, teremos de dizer que o ser em si mesmo é diferente dos outros.

Teeteto – Forçosamente.

Estrangeiro – Então, concluiremos que quantas vezes os outros são, outras tantas o ser não é, pois não sendo eles, será um em si mesmo, enquanto os outros, de número infinito, não serão.

Teeteto – Terá de ser mais ou menos assim.

Estrangeiro – Esse ponto, por conseguinte, já não nos causará aborrecimento. Quem não aceitar semelhante conclusão, cuide primeiro de refutar o argumento anterior, para depois atacar o que lhe vem no rastro.

Teeteto – Nada mais justo.