Sof 263d-264b: O Não-ser no juízo e na imaginação

Estrangeiro – Mas como! Pensamento, opinião e imaginação: não é evidente, de início, que todos esses gêneros ocorrem em nossa alma como verdadeiros e como falsos?

Teeteto – De que jeito?

Estrangeiro – É o que perceberás facilmente, logo que determinares o que todos eles são e em uns que diferem uns dos outros.

Teeteto – Basta que te expliques melhor.

Estrangeiro – Ora bem, pensamento e discurso são uma e a mesma coisa, com diferença de que o diálogo interior da alma consigo mesma que se processa em silêncio recebeu o nome de pensamento.

Teeteto – Perfeitamente.

Estrangeiro – E a corrente que sai dela, pela boca, por meio de sons, recebe o nome de discurso.

Teeteto – Certo.

Estrangeiro – Como também sabemos que no discurso há o seguinte.

Teeteto – Que será?

Estrangeiro – Afirmação e negação.

Teeteto – Sabemos, realmente.

Estrangeiro – Quando isso se passa na alma, em silêncio, poderás dar-lhe outro nome que não seja o de opinião?

Teeteto – Qual mais poderia ser?

Estrangeiro – E quando a opinião se forma em alguém, não por ela mesma, mas por intermédio alguma sensação, haverá designação mais acertada do que a de imaginação?

Teeteto – Não há outra. .

Estrangeiro – Logo, se há discurso verdadeiro e discurso falso, e o pensamento se nos revelou como conversação da alma consigo mesma, e opinião como a conclusão do pensamento, vindo a ser o que designamos pela expressão Imagino, uma mistura de sensação e opinião, forçoso é que algumas sejam falsas, dadas suas afinidades com o discurso.

Teeteto – Sem dúvida.

Estrangeiro – Como já percebeste, apanhamos mais depressa do que esperávamos a falsa opinião e o falso discurso, pois, não faz muito, tínhamos receio de haver empreendido com semelhante pesquisa uma tarefa irrealizável.

Teeteto – Já percebi, realmente.