Sof 264b-268c: Epílogo. O que é o Sofista.

Estrangeiro – Por isso, não desanimemos ante o que ainda nos falta realizar; e já que conseguimos chegar até aqui, voltemos a tratar de nosso processo de divisão.

Teeteto – Que divisão?

Estrangeiro – Distinguimos duas classes na arte de fazer imagens: a da cópia e a dos simulacros.

Teeteto – Certo.

Estrangeiro – E também nos confessamos em dificuldade para incluir o sofista numa delas.

Teeteto – Isso mesmo.

Estrangeiro – E no auge de nossa confusão, trevas ainda mais densas nos envolveram, com apresentar-se- nos o argumento de contestação universal, de que não existe absolutamente nem cópia nem simulacro, visto não ser possível haver, seja onde for, qualquer espécie de falsidade.

Teeteto – Falaste com muito acerto.

Estrangeiro – Porém, uma vez provada a existência de falsos discursos e de opiniões falsas, é possível que haja imitação dos seres, e que dessa disposição do espírito nasça uma arte da falsidade.

Teeteto – É possível.

Estrangeiro – Como também já admitimos no que ficou exposto que o sofista se incluía numa dessas classes.

Teeteto – Certo.

Estrangeiro – Então, experimentemos de novo dividir em dois o gênero proposto, avançando metodicamente sempre pela parte do lado direito da secção e apegando-nos no que todas tiverem de específico com o sofista, até que, depois de o despojarmos de suas propriedades comuns, o deixemos com sua natureza peculiar, que exporemos primeiro para nós mesmo, e a seguir para os componentes do gênero que por natureza mais se coaduna com semelhante processo.

Teeteto – Certo.

Estrangeiro – E não é também certo que no começo firmamos a distinção entre a arte criadora e a aquisitiva?

Teeteto – Sim

Estrangeiro – E na arte aquisitiva, a caça, a luta, o comércio e outras formas semelhantes não nos permitiram entrever o sofista?

Teeteto – Perfeitamente.

Estrangeiro – Porém, uma vez que a arte da imitação o absorveu, é mais do que claro que teremos de começar por dividir em dois a própria arte da criação. Pois imitação não deixa de ser criação, a saber, de imagens, simplesmente, é o que afirmamos, não da própria realidade. Não é isso mesmo?

Teeteto – Perfeitamente.

Estrangeiro – Para começar, a arte criadora consta de duas partes.

Teeteto – Quais são?

Estrangeiro – Uma é divina; a outra humana.

Teeteto – Não compreendi.