Excerto de SORABJI, Richard. The Philosophy of the Commentators, 200-600 AD: A sourcebook. Vol. 1: Psychology. Ithaca: Cornell University Press, 2005, p. 34-35
Alcínoo, o autor médio-platônico do Didaskalikos do primeiro ao segundo século dC, assume que Platão sustenta que mesmo a percepção da cor ou do colorido é “não sem o tipo de razão que envolve opinião (doxastikos logos)”, enquanto a discriminação do mel é por esse tipo de razão. Opinião em Alcínoo, seguindo Platão Teeteto 190e-196c é um poder de reconhecimento. Posteriormente, foi acordado que os corpos são reconhecidos pela opinião (Proclus) ou pela razão opinativa (Prisciano).
Como pode ser que a cor e o colorido sejam percebidos “não sem a ajuda de doxastikos logos”, dado que Alcínoo nos diz em 154,40-155,5 que doxastikos logos é derivado de percepções sensoriais? A resposta parece ser dada na mesma passagem. O logos doxastikos não é necessário para uma simples visão, mas para “dizer dentro de nós ‘Sócrates!’, ‘Cavalo!’, ‘Fogo!’”, em outras palavras, para reconhecer, uma vez que isso exige que conectemos (suntithenai) novas percepções com as antigas.
O reconhecimento de coisas como Sócrates, cavalo, fogo ou mel é o mais exigente porque o mel não é meramente colorido ou colorido, mas é um amontoado (gr. atroisma, ing. bundle) que inclui também, por exemplo, a doçura e o doce (baseado em Platão Teeteto 156d-157c), então doxastikos logos tem ainda mais conexões para fazer entre os membros do amontoado.
Esta última [razão (logos)] também tem dois aspectos: um relacionado com os objetos de intelecção, o outro com os objetos de sensação. Destes, o primeiro, que diz respeito aos objetos da intelecção, é a ciência (episteme) e a razão científica (epistemonikos logos), enquanto o que diz respeito aos objetos dos sentidos é a opinião (doxa) e a razão opiniativa (doxastikos logos). [Alcínoo Didaskalikos ch. 4, 154, 25-9, tr. John Dillon]
E, por sua vez, uma vez que dos objetos dos sentidos, alguns são primários, como qualidades, por exemplo, cor, ou alvura, e outros acidentais, como ‘branco’ ou ‘colorido’, e seguindo estes o feixe (atroisma), como fogo ou mel [cf. Platão Theaetetus 156D-157C], mesmo assim haverá um tipo de percepção sensorial relacionada com os objetos primários, chamados “primários”, e outro relacionado com os secundários, chamados “secundários”. [Alcínoo Didaskalikos 156,1-6; tr. John Dillon]
Os sensíveis primários e secundários são julgados (krinein) pela percepção dos sentidos, não sem o auxílio da razão opiniativa (doxastikos logos), enquanto o feixe (athroisma) é julgado pela razão opiniativa, não sem o auxílio da percepção dos sentidos [cf. Plato Timaeus 28A]. [Alcínoo Didaskalikos 156,8-11; tr. John Dillon]
Opinião é a combinação de memória e percepção. Pois quando encontramos pela primeira vez algo perceptível, e disso temos uma percepção, e a partir disso uma memória, e mais tarde encontramos o mesmo perceptível novamente, conectamos a memória pré-existente com a percepção subsequente e dizemos dentro de nós mesmos ‘Sócrates!’ , ‘Cavalo!’, ‘Fogo!’, Etc. E isso é chamado de opinião (doxa) – nossa conexão (suntithenai) a percepção pré-existente com a percepção recém-produzida. [Alcínoo Didaskalikos 154,40-155,5; tr. David Sedley]