1. Mênon e seu escravo encontram-se verdadeiramente na mesma situação para alcançar o conhecimento?
Imaginemos a situação cognitiva no Mênon do seguinte modo, distanciando-nos ligeiramente de Platão:
a) Sócrates não conhece a solução do problema geométrico da duplicação do quadrado. Juntamente com um escravo de Mênon, ele cai profundamente na aporia. Todavia, como investigadores decididos e enérgicos, os dois geômetras refletem a fundo, buscam e encontram: no final, eles sabem que a diagonal de um quadrado é o lado de um quadrado de área dupla.
b) Sócrates também não conhece a solução do problema filosófico — o que é a arete. Juntamente com Mênon, ele cai profundamente na aporia. Todavia, como pesquisadores empenhados (ἐργατικοί, ζητητικοί) que eles são, os dois filósofos continuam a buscar, decididos, até que possam ter a solução e determinar a essência da arete.
Se fosse esse o desenvolvimento do diálogo, então haveria um paralelismo exato entre a situação cognitiva do escravo e a de seu senhor Mênon.
Ora, Platão, como se sabe, deu a entender tal paralelismo, mas ao mesmo tempo o contrariou em dois pontos: Sócrates não caiu de modo nenhum junto com o escravo na aporia, no que diz respeito ao lado do quadrado buscado; e a busca filosófica, diferentemente da geométrica, não resulta numa solução da aporia. (193)
Mênon poderia perguntar, com razão, que ganho ele deveria ter obtido para si mesmo com a apresentação da aquisição de conhecimento geométrico por parte de seu escravo. Por certo, Sócrates poderia responder que a lição sobre a duplicação do quadrado teve o único objetivo de comentar a proposição segundo a qual o assim chamado aprender é, na realidade, um relembrar, e que isso ficou claro pelas reações do escravo. Mas isso mal seria uma resposta suficiente, pois a explicação do aprender como relembrar foi, por sua vez, concebida como resposta à opinião de Mênon de que não se pode buscar nada (e, consequentemente, nada aprender), nem o que já se sabe — pois não é preciso buscar isso —, nem o que não se sabe — pois não poderíamos “expor” nada do que não sabemos, para analisá-lo (mais detalhadamente), nem poderíamos, deparando com o que buscamos, reconhecê-lo (80 d5-9). Como resposta a isso, não basta mostrar que aprender é relembrar, e assegurar que nos tomamos “melhores” e “mais corajosos” (86 bc). Sócrates deveria, além disso, mostrar que é possível a um ignorante levar-se, a si próprio, de modo metódico (isto é, não apenas casual) a “recordar” alguma coisa que ele antes tinha “esquecido”. O diálogo sobre a duplicação do quadrado absolutamente não corresponde a essa exigência: nem o escravo pode “expor” a si mesmo, para um exame mais preciso, determinados lados dos quadrados, cuja relação com o lado buscado ele agora “esqueceu” — é, antes, Sócrates que o faz —, nem o escravo reconhece o quadrado sobre as diagonais como o quadrado buscado, quando Sócrates o mostra para ele; ele é conduzido ao objetivo só depois de mais perguntas, que ele não poderia fazer por si próprio.
Mas, se a dupla de investigadores Sócrates-escravo só foi bem-sucedida porque um dos dois, por causa de sua vantagem de conhecimento, é capaz de dar o passo (194) decisivo — a exposição da coisa a ser interrogada, o próprio interrogar e a identificação do encontrado com o buscado —, disso nada se segue para a probabilidade de sucesso do par de investigadores Sócrates-Mênon, na medida em que ambos estão igualmente na aporia — o que Sócrates assegura enfaticamente (80 cd). O paralelismo das situações de conhecimento é forçosamente exigido pela crise do diálogo, caracterizada pela enunciação erística da impossibilidade da busca. Se Platão o refuta no desenvolvimento de modo quase evidente, então é de perguntar se justamente nisso não se encontra uma parte da enunciação, ou talvez a enunciação mais importante do diálogo1. A situação de aprendizagem na questão da arete é talvez mais semelhante do que parece à primeira vista àquela do problema geométrico? Para ver com mais clareza aqui, descrevamos com mais precisão e de acordo com as indicações textuais o tipo de condução do diálogo fora da demonstração geométrica e a relação em que são postos os dois interlocutores.
Naturalmente, ninguém considerará que a diferença das situações poderia ter escapado a Platão contra sua vontade: muito nitidamente, é construída a aporia “comum” num caso e, no outro caso, a aporia do escravo apenas. A questão da utilidade da lição de geometria para o Mênon quase nunca é levada a sério, nem mesmo por K. GAISER (Platons Menon und die Akademie (1964), reimpr. in J. WIPPERN (hrsg.), Das Problem der ungeschriebenen Lehre Platons, Darmstadt, 1972, 354, nota 35): “Também não é suficiente a consideração de que o escravo é conduzido ao conhecimento por uma pessoa que possui conhecimento, enquanto na questão a respeito da arete ambos os interlocutores se encontram na aporia. Se há o ‘parentesco’ de todas as coisas admitido por Sócrates, então se encontra na estrutura mesma do ser a possibilidade de avançar de modo correto em direção da verdade”. Por mais importante que seja o “parentesco” de todas as coisas como condição da possibilidade do conhecimento, ele ainda não explica como uma alma ignorante e (no sentido de República 611 d) “alterada” pode se dar conta da estrutura do ser. Se tivesse primariamente importado a Platão o parentesco das coisas, ele teria podido renunciar ao diálogo didático sobre a geometria; a longa permanência no processo de aprendizagem do escravo mostra que ele quer tematizar aqui o aspecto “humano” da condução à verdade, dando posição secundária ao aspecto ontológico de seu fundamento. ↩