Tag: António Caeiro

  • Caeiro (Arete:63) – eidos – aspecto

    Vejamos um pouco mais de perto o que Platão pretende dizer. Suponhamos o tampo da mesa a que me encontro sentado. Nós estamos preparados a determiná-lo quanto à sua forma geométrica como rectangular. Podemos enunciar o juízo «o tampo da mesa é rectangular». Aparentemente, estamos a trazer à linguagem aquilo que nos parece ser o…

  • se estar disposto [διατίϑεσϑαι]

    A diferença entre uma situação que nos acontece e a sua mera apresentação reprodutora e imitadora é determinada pela possibilidade de o humano ser afetado por diferentes disposições1. Ao tematizarmos as afetações disposicionais produzidas por uma determinada situação em que nos encontramos, alheamo-nos de algum modo da capacidade de sermos afetados, ou, antes, transformamos a…

  • Caeiro: saúde é a excelência (arete) da vida corporal e psíquica?

    Excerto de CAEIRO, António de Castro. A arete como possibilidade extrema do humano. Fenomenologia da práxis em Platão e Aristóteles. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2002, p. 27-31 A «excelência de cada coisa é arranjada e posta numa ordem (κόσμος – kósmos) através de uma estrutura organizativa (τάξις – táxis)». Quando uma excelência está presente,…

  • Caeiro (Arete:241) – a presença do desejo

    (…) O fluxo do desejo abate-se sobre nós. Ficamos-lhe expostos. À sua disposição. Há uma falta que se faz sentir e que nos interpela. O que está em falta é prazer (ἡδονή). A exposição à vontade de prazer (ἐπιθυμία) quer dizer exposição à falta de prazer (ἡδονή). A vontade de prazer (ἐπιθυμία) potencia a possibilidade…

  • arete (Caeiro)

    CAEIRO, António de Castro. A arete como possibilidade extrema do humano. Fenomenologia da práxis em Platão e Aristóteles. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2002., p. 17-19 Esta dissertação tem como objectivo a exposição do horizonte da situação humana (πρᾶξις) por forma a nele se poder encontrar e realizar a sua possibilidade extrema, a excelência (άρετή).…

  • Caeiro (Arete:§66) – A determinação do trabalho (ergon) específico do humano

    A situação (praxis) designa o horizonte onde pode eclodir a excelência (arete). Estar lançado para a felicidade (eudaimonia) é uma característica formal da vida humana. É por termos um conhecimento deste projecto que nos está dado em mãos que percebemos estarmos afastados dele ou irmos no seu encalço. Se «ser feliz» é o projecto fundamental…

  • alogon

    alogos, ἄλογος, alogon, ἄλογον A diferença é estabelecida no final do livro 1 da Ética a Nicómaco e fundamenta-se, por sua vez, numa diferenciação das partes ἄλογον e λόγον ἔχει da alma. À parte ἄλογα da ψυχή, designadamente aquela onde se encontra sediada o desejo, assiste a possibilidade de participar do λόγος, de alguma forma,…

  • agnosia

    gr. ἄγνοια, agnoia = ignorância; ágnôstos = desconhecido, não cognoscível. Devido à transcendência de Deus surgem alguns problemas acerca da possibilidade de este ser um objeto de conhecimento. ἄγνοια quer dizer etimologicamente «incapacidade de reconhecimento, não apercepção, deixar passar despercebido». Como veremos mais adiante, Aristóteles distingue uma ignorância passiva, inocente, se assim podemos dizer, de…

  • Caeiro (Arete:49) – arete

    CAEIRO, António de Castro. A arete como possibilidade extrema do humano. Fenomenologia da práxis em Platão e Aristóteles. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2002, p. 49 A excelência (arete) não é nenhum conteúdo de aprendizagem (mathema), porquanto a situação de aprendizagem do que possa ser esse conteúdo não se pode concretizar em enunciados que o…

  • Caeiro (Arete:57-58) – eidos

    Há uma «ideia» que nós fazemos acerca de todas as coisas na sua diversidade, às quais aplicamos o mesmo nome que damos àquela. Uma manifestação (eidos) é a unidade de sentido que nos permite compreender todo um conjunto de coisas na sua diversidade, na medida em que se trata do aspecto característico que cada coisa…

  • Caeiro (Arete:59-60) – mimesis

    Cada coisa pode ser considerada em três modos de ser: ou como aquilo que cada coisa é na sua natureza , sendo Deus que a produz ; ou como objecto no mundo e que utilizamos — feita por um artesão; ou no modo como o pintor retrata as coisas, apenas num dos seus aspectos, cristalizados…

  • Uma coisa é o que nos surge (γίγνεσθαι ήμῖν) e outra coisa ter em vista (ύεωρεῖν)

    A estranheza da nossa vida está nisto mesmo, ou seja, ser possível que o que só «se aguenta» de uma forma violenta, como a exposição a situações adversas que nos acontecem (οἰκεῖαι συμφοραί), situações que nos fazem ter «fome de chorar» (Rep., 606a4), nos fazem lamentar amargamente, deprimem e trazem sofrimento, possam ser interpretadas, vistas…

  • Caeiro (Arete:63-66) – mimesis

    A análise platônica do fenômeno da imitação reprodutora (mimesis) aponta para o facto absolutamente espantoso de a sua ação não se circunscrever só aos mais diversos campos da reprodução artística, mas extravasar para fora do domínio da realidade no seu todo. Ou seja, a actividade artística de um pintor exacerba esta nossa instalação do olhar.…

  • Caeiro (Arete:67-68) – pathos

    A eclosão do horizonte da situação humana (praxis) dá-se a partir da tematização das afectações (pathe) da lucidez humana (psyche) com vista à sua neutralização afectiva e à obtenção da liberdade que nos permita reagir-lhes, esboçando, dessa forma, um comportamento activo. Os limites patológicos são o sofrimento (lype) e o prazer (hedone). A libertação do…

  • Caeiro (Arete:68-72) – aitia

    Podemos encontrar uma caracterização desta investigação no Fédon. Procura-se, aí, pôr a descoberto a «causa fundamentalmente responsável» (aitia) por cada coisa, tanto no plano físico como no plano prático . Em vista tem-se o apuramento do sentido que articula as mais diversas situações pelas quais o humano pode passar (praxis). Isto é, um saber daquilo…

  • Caeiro (Arete:73-75) – agathon

    É esta a compreensão que dá inteligibilidade à situação concreta de Sócrates. A ela não temos acesso através da mera descrição do que vemos de uma forma objectiva, por mais pormenorizada e exaustiva que ela seja, procurando inclusivamente referir os horizontes internos de cada coisa. Esta descrição objectiva da situação está orientada para o escrutínio…

  • Caeiro (Arete:79-81; 85-86) – tragoidia (tragédia)

    De que forma é que a reprodução imitadora (mimesis) pode distorcer completamente todos os fenômenos afins à «prática humana»? Qual é a relação mimética que temos com o sentido da situação humana (praxis)? Ou, antes, de que forma podemos aceder autenticamente ao sentido de uma determinada situação por que passamos, criando-a ou caindo nela? Esta…

  • Caeiro (Arete:81-84) – pragmata

    (…) de que modo é possível ter acesso à verdade e não ao simulacro da excelência (arete)? Qual é o aspecto essencial (eidos) da excelência (arete)? De que forma temos ou não um autêntico acesso ao seu sentido? De que forma as produções artísticas que imitam as situações humanas são «outras» e «derivadas»? Se se…

  • Caeiro (Arete:87-90) – lype

    Para percebermos a diferença radical que há entre o modo como um acontecimento se processa na vida e o modo como esse acontecimento é «visto» pela reprodução imitadora (mimesis), consideremos primeiramente uma situação que nos afecte, deprimindo-nos. Quando passamos por uma situação que é qualificada como sendo deprimente (lype), produz-se uma dependência do desenvolvimento da…

  • Caeiro (Arete:90-91) – poietike

    «O poeta faz nascer uma má constituição na existência particular de cada um» . Como resultado desta má constituição (kake politeia), os melhores podem ser pervertidos . Esta «perversão» e «distorção» das situações (praxeis) humanas podem resultar da atenção prestada aos poetas. É o que acontece quando procuram representar a situação aflitiva em que se…