Como Hermes, mas com um aspecto mais de técnico que de comerciante, Dédalo simboliza a engenhosidade. Tanto constrói o labirinto, onde o homem se perde, quanto as asas artificiais de Ícaro, que contribuem para a escapada e o voo, e provocam, finalmente, a perda. Construtor do labirinto, símbolo do subconsciente, ele representaria muito bem, em estilo moderno, o tecnocrata abusivo, de intelecto pervertido, de pensamento cego pelo afeto, que, perdendo a lucidez, faz-se imaginação exaltada e fica prisioneiro da sua própria construção, o subconsciente.
Mas a construção pode ser, também, consciente, e elevar-se sobre as asas da ambição, a qual, uma vez desmesurada, leva à catástrofe. O personagem lendário de Dédalo é o símbolo do tecnocrata, do aprendiz de feiticeiro fantasiado de engenheiro, que não conhece os limites do seu poder, se bem que seja representativo da inteligência prática e da habilidade de execução e o tipo do artista universal, sucessivamente arquiteto, escultor, inventor de meios mecânicos. Com as estátuas animadas que lhe foram atribuídas, ele faz lembrar Leonardo da Vinci e seus automata. Mas Dédalo não teve mais sorte do que Leonardo com os diferentes príncipes a que serviu. [DS]