Em seu sentido de “elevação”, o nome Kronos convém perfeitamente a Saturno, que corresponde de fato à mais elevada das esferas planetárias, o “sétimo céu” ou o Satya-Loka da tradição hindu. Não se deve, aliás, considerar Saturno como sendo apenas, nem mesmo em primeiro lugar, um poder maléfico, como parece ser a tendência algumas vezes, pois não se deve esquecer que, antes de tudo, ele é o regente da “idade de ouro”, ou seja, do Satya-Yuga, ou da primeira fase do Manvantara, que coincide exatamente com o período hiperbóreo. Isso mostra que existem boas razões para Kronos estar identificado ao deus dos hiperbóreos. É provável que o seu aspecto maléfico resulte do próprio desaparecimento do mundo hiperbóreo, pois é em virtude de uma “reversão” análoga que toda “Terra dos Deuses”, sede de um centro espiritual, torna-se uma “Terra dos Mortos” quando esse centro desaparece. É possível ainda que, a seguir, esse aspecto tenha-se concentrado mais facilmente sob o nome Kronos, enquanto que o aspecto benéfico permanecia, ao contrário, vinculado ao nome Karneios, devido ao desdobramento desses dois nomes que, na origem, eram apenas um. É verdade também que o simbolismo do próprio Sol apresenta os dois aspectos opostos, vivificante e mortífero, produtor e destruidor, tal como observamos recentemente a propósito das armas que representam o “raio solar”. (Guénon)