Na notícia que encabeça a tradução francesa de Thomas Vidart, na edição das Enéadas organizada por Luc Brisson e Jean-François Pradeau, o objeto deste tratado é a felicidade. Segundo o tradutor, na Antiguidade a felicidade não é considerada como um sentimento do qual se faz a experiência, mas como um estado no qual a gente se encontra: aquele que beneficia de numerosos benfeitos ao longo de sua existência e que escapa às vicissitudes é proclamado feliz sem que o que experimente nele mesmo seja tomado em consideração. A felicidade parece então depender da fortuna: seremos felizes ou infelizes ao azar dos eventos sobre os quais nosso poder é muito limitado. Plotino mostra no entanto que a felicidade não nos é acordada ou recusada segundo as circunstâncias que se apresentam: ele sublinha com efeito neste tratado que a vida feliz é o resultado de uma investigação na qual a vontade desempenha um papel decisivo. Como é então possível querer ser feliz se os eventos que nos tornam felizes ou infelizes escapam em grande parte a nosso domínio? A resposta que Plotino propõe neste tratado já é sugerida em um texto anterior cujo objeto é mais preciso: segundo o tratado Se a felicidade cresce com o tempo, “se a felicidade corresponde a uma vida boa, deve-se evidentemente colocar que a felicidade corresponde à vida daquilo que é, pois esta vida é a melhor” (Tratado-36). O Tratado-46, que ora se examina, põe precisamente no centro das considerações sobre a felicidade esta vida do inteligível ou do Intelecto, os dois enquanto o mesmo para Plotino. Ele então explica como é possível para um indivíduo ser feliz, quer dizer qual deve ser sua relação à vida daqui de baixo.
Tratado 46 (I, 4) – Se os animais podem ser ditos felizes
- Enéada I, 4, 11: A vontade do sábio está voltada para o interior
- Enéada I, 4, 12: O prazer é para o sábio a serenidade.
- Enéada I, 4, 13: A visão do bem para o sábio não está suspensa pelo sofrimento
- Enéada I, 4, 14: O sábio menospreza os bens corporais e os bens exteriores
- Enéada I, 4, 15: Os bens corporais não aumentam a felicidade do sábio
- Enéada I, 4, 16: A relação do sábio ao Intelecto
- Enéada I, 4, 2 — É legítimo considerar a sensação e a razão como critérios da felicidade?
- Enéada I, 4, 3: A felicidade deve ser posta na vida
- Enéada I, 4, 4: A possessão pelo homem da vida perfeita
- Enéada I, 4, 5: Os males não põem em causa a felicidade? O lugar do corpo na busca da felicidade