Plotino – Tratado 9,3 (VI, 9, 3) — A unidade verdadeira, o Uno

Tradução a partir de MacKenna

2. Deve-se dizer, então, que, para cada uma das coisas cuja unidade não é senão aquela de suas partes, sua realidade não é idêntica à unidade, enquanto, no caso disto que é totalmente e de sua realidade, a realidade, isto que é e a unidade são idênticas, de sorte que, se se descobre isto que é, então também se terá descoberto a unidade, pois a realidade ela mesma é idêntica à unidade?

— Neste caso, se a realidade é o intelecto, o intelecto é também a unidade, posto que ele é isto que é primordialmente e que ele é primordialmente uno. Ele dá assim o ser às outras coisas na medida mesma em que lhes dá a unidade. Que se poderia dizer que é a unidade, com efeito, se ela não é estas coisas? Ou bem a unidade é idêntica ao ser — «homem» e «um homem» é com efeito a mesma coisa —, ou bem a unidade é como um número que corresponde à cada coisa, e como se diz «dois» de duas coisas, do mesmo modo se diz «um» de uma só coisa. Logo se o número faz parte das coisas que são, é evidente que a unidade também dele faz parte, e é necessário buscar o que ela é. Mas se, em revanche, o fato de contar não é senão uma atividade da alma que percorre as coisas, neste caso, a unidade não fará parte das coisas reais.

— O argumento não mostraria que, se uma coisa perdesse a unidade, ela não seria absolutamente?

— Logo é preciso ver se a unidade e o ser são idênticos em cada coisa, e se isto que é totalmente é idêntico à unidade. Mas se o ser em cada coisa coincide com a multiplicidade e que, em revanche, é impossível que a unidade seja uma multiplicidade, a unidade e o ser serão diferentes um do outro. Por exemplo, o homem é um animal e é dotado de razão, quer dizer que tem várias partes que estão ligadas na unidade; mas então o homem e a unidade são coisas diferentes, pois um é divisível, a outra indivisível. E certamente, isto que é totalmente, que tem nele mesmo todas as coisas que são, será ainda mais múltiplo e diferente da unidade, não possuindo essa senão por participação. Isto que é possui com efeito vida e intelecto, pois não está certamente morto; eis porque é múltiplo. Mas se é intelecto, neste caso também é necessariamente múltiplo; e o é ainda mais, se compreende as formas. Pois a forma não é una, mas ela é de preferência um número, assim como cada forma que a realidade das formas em seu conjunto, e é neste sentido que ela é una, como o mundo é um. Em resumo, a unidade é o que é primeiro, enquanto o intelecto, as formas, e isto que é não são primeiros. Pois cada forma é composta de vários elementos, e ela lhes é posterior; e estes elementos, das quais cada uma é composta, lhe são com efeito anteriores. Que seja impossível que o intelecto seja o primeiro, isso é evidente também disto que segue: o intelecto consiste necessariamente no ato de pensar, e o intelecto superior é aquele que, sem portar seu olhar sobre as coisas que lhe são exteriores, pensa isto que o precede; com efeito, se voltando para ele mesmo, se volta para o princípio. E se é isto que pensa e isto que é pensado, será duplo e não simples, e não será também não a unidade; em revanche, se porta seu olhar sobre outra coisas, se voltará em todos os casos para isto que lhe é superior e anterior; enfim, se se volta para ele mesmo e para isto que lhe é superior, neste caso também será posterior. Logo é preciso colocar um Intelecto deste gênero, que, por um lado, se aproxima do Bem e do Primeiro em portando sobre ele seu olhar, e que, por outro lado, esteja consigo mesmo, se pensa si mesmo e se pensa si mesmo como sendo todas as coisas. Logo está bem distante de ser a unidade, pois é multiforme. Logo a unidade não será todas as coisas, pois, neste caso, ela não seria mais una; nem ela não será o intelecto, pois, neste caso também, ela seria todas as coisas, posto que o intelecto é todas as coisas, nem ela não será o ser também não, pois o ser é todas as coisas.

MacKenna

Bouillet

Guthrie

Taylor

  1. i.e. by a formative principle.[]
  2. For αρχήν here, it is necessary to read αρχής; and it is also requisite to alter the punctuation conformably to the above translation.[]
  3. Instead of του όντος here, it is necessary to read του ενος. For it is absurd to suppose Plotinus would say, that being has as it were the form of being, and yet Ficinus so translates it: “Nam ens velut formam ipsam entis habet.”[]
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