O HOMEM (cont.)
Excertos de Micheline Sauvage, Sócrates. Agir, 1959 (original em francês: Socrate ou la conscience de l’homme
Eis o que torna supérfluo o casto embaraço que muitos autores sentem ao abordar a questão do “vício Socrático”. É muito plausível que, ao passar às práticas homossexuais, Sócrates apenas tenha testemunhado pelas mesmas o interesse que ligavam os costumes gregos do tempo. Os numerosos testemunhos que possuímos de sua continência provam simplesmente que sabia dominar tão bem estes prazeres como os dos banquetes. É por sua temperança que Diógenes Laércio explica o fato de não haver jamais contraído a peste em Atenas. Sabemos, entretanto, que, em certas ocasiões, este homem excepcionalmente sóbrio comia e bebia de rijo. Convém não esquecer que ele considera essas coisas sob o ângulo do erro e não do pecado, da eudemonia e não da salvação. Sua resistência física ao vinho como à fome, ao frio e à fadiga, parece ter impressionado seus contemporâneos, que a descrevem como uma resistência de asceta, feita de inatenção ao sensível e de retiro espiritual. Diferente de si porque livre de si, assim aparecia, sem dúvida, a Alcibíades, por exemplo, fascinado por esta independência inacessível para ee. Assim também nos aparece, para confusão nossa, a nós que estamos habituados a calcular um homem como o produto exato de certo número de fatores sempre externos, — temperamento, meio, infância, coordenadas históricas, e outros, a ponto de esquecer a liberdade.