Sócrates – No entanto, é muito fácil. Todos os sábios estão acordes – por isso mesmo com isso se engrandecem – em que, para nós, a inteligência é a rainha do céu e da terra. E talvez tenham razão. Porém, caso queiras, investiguemos mais de espaço a que gênero ela pertence.
Protarco – Faze como entenderes, sem medo de alongar-te em demasia, pois não nos causarás enfado.
XVI – Sócrates – Muito bem. Então, principiemos com a seguinte pergunta.
Protarco – Qual será?
Sócrates – Para sabermos, Protarco, se no conjunto das coisas e nisto a que damos o nome de universo domina alguma força irracional e fortuita, ou seja o puro acaso ou o seu contrário, a mente, como diziam nossos antepassados, e uma sabedoria admirável que tudo coordena e dirige?
Protarco – São duas assertivas, meu admirável Sócrates, que se destroem mutuamente. A que acabaste de enunciar se me afigura verdadeira blasfêmia. Mas, dizer que a mente determina tudo, é uma asserção digna do aspecto do universo, do sol, da lua, dos astros e de todo o circuito celeste, sem que, do meu lado, eu possa pensar ou manifestar-me a esse respeito por maneira diferente.
Sócrates – Queres, então, que nos declaremos de acordo com os nossos maiores, sobre se passarem as coisas, realmente, dessa maneira, não nos limitando a repetir sem o menor risco de a opinião de terceiros, mas compartilhando com aqueles tanto a censura como o risco, sempre que algum sujeito petulante afirmar que não é assim e que não há ordem no universo?
Protarco – Como não hei de querer?