Cérbero dos Infernos

Mitologia Grega – Hércules – Doze Trabalhos – Cérbero dos Infernos

Junito Brandão

Cérbero é o cão do Hades, um dos monstros que guardava o império dos mortos e lhe interditava a entrada dos vivos, mas, acima de tudo, se entrassem, impedia-lhes a saída. Segundo Hesiodo, o espantoso animal possuía cinquenta cabeças e voz de bronze. A imagem clássica, porém, o apresenta como dotado de três cabeças, cauda de dragão, pescoço e dorso eriçados de serpentes. Um dos trabalhos impostos por Euristeu a Héracles foi o de ir ao Hades e de lá trazer o monstro. Após iniciar-se nos Mistérios de Elêusis, o herói desceu à outra vida. Plutão permitiu-lhe cumprir a tarefa, desde que dominasse Cérbero sem usar de armas. Numa luta corpo-a-corpo o filho de Alcmena o venceu e o trouxe meio sufocado até o palácio de Euristeu, que, apavorado, ordenou a Héracles que o levasse de volta ao Hades.

O cão do Hades representa o terror da morte, simboliza o próprio Hades e o inferno interior de cada um. E de se observar que Héracles o levou de vencida, usando apenas a força de seus braços e que Orfeu “por uma ação espiritual”, com os sons irresistíveis de sua lira mágica o adormeceu por instantes. Estes dois índices militam em favor da interpretação dos neoplatônicos que viam em Cérbero o próprio gênio do demônio interior, o espírito do mal. O guardião dos mortos só pode ser dominado sobre a terra, quer dizer, por uma violenta mudança de nível e pelas forças pessoais de natureza espiritual. Para vencê-lo, cada um só pode contar consigo mesmo.

Mário Meunier

Finalmente, como última provação, Euristeu prescreveu a Hércules descer aos Infernos e trazer Cérbero, o cão de guarda das portas subterrâneas. Desceu, pois, acompanhado de Hermes, ao abismo dos Mortos. Atravessou grandes rios de fogo e torrentes de lama. Depois, quando chegou ao trono do inflexível Hades, expôs ao soberano dos Infernos o objetivo de sua viagem. Hades permitiu-lhe levar Cérbero à claridade do dia, sob condição de tornar-se dono desse terrível guarda sem o auxílio de qualquer arma. Cérbero era um cão de tres cabeças cujo corpo esguio terminava por uma cauda de dragão. Seu latido de bronze sonoro fazia tremer todos que dele se aproximassem. Sem armas, pois, revestido apenas, à guisa de couraça, de seu couro de leão, Hércules enfrentou o monstro de ladridos terríveis, agarrou-o pelo pescoço, precisamente onde se reuniam as tres cabeças e, embora mordido, apertou-o tão fortemente que o cão, sentindo-se esganado, resignou-se a segui-lo. Hércules, então, amarrou o intratável animal, tirou-o para fora do abismo e foi mostrá-lo ao seu senhor, Euristeu. Aterrorizado, o príncipe deu imediatamente ordem de devolver o monstro de latidos medonhos ao sombrio Tártaro.

Após haver, segundo dizem, levado oito anos e um mes para executar os doze trabalhos que Euristeu lhe impusera, Hércules foi libertado da servidão à qual havia se condenado. O ilustre guerreiro pôs-se novamente a percorrer o mundo, não mais, desta vez, para combater monstros, mas para lutar contra a injustiça dos homens. Por tôda parte a que ia, castigava os ladrões e dava o apoio generoso e sempre vitorioso de seu braço aos povos oprimidos por iníquos vizinhos. Dirigiu-se um dia à casa de um ilustre arqueiro, Êurito, que, segundo diziam, havia oferecido a filha, Íole, como premio de vitória a quem fôsse mais hábil que ele na arte de distender um arco e de dirigir a flecha para um alvo. Hércules aceitou «o desafio e saiu triunfante, mas quando reclamou o premio de sua habilidade foi-lhe ele recusado. O Herói, enraivecido, foi-se embora. Algum tempo depois, um dos filhos desse hábil, mas desleal arqueiro, Ífito, foi suplicar ao filho de Alcmena que o auxiliasse na recuperação de uma manada de bois que lhe haviam roubado. Tomado, de súbito, de um acesso de furor, e recordando-se da injúria que Êurito lhe havia feito, Hércules agarrou o infortunado suplicante e jogou-o do alto dos muros de Tirinto. Após esse crime, Hércules retomou o caminho de Delfos para fazer-se purificar. O Deus condenou-o a sofrer novamente a escravidão por um ano e a dar a Êurito, como preço do sangue derramado, o montante do salário que pudesse ganhar. Hércules, então, embarcou para a Asia. Hermes encarregou-se de vende-lo e o Herói foi comprado por Ônfale.

Robert Graves

O último e mais árduo dos Trabalhos de Hércules foi trazer o cão Cérbero do Tártaro. Para se preparar, Hércules foi até Elêusis, onde solicitou que lhe permitissem participar dos Mistérios e portar a coroa de mirto. Hoje em dia, qualquer grego de boa reputação pode ser iniciado nos Mistérios de Elêusis, mas, na época de Hércules, só os atenienses eram admitidos, motivo pelo qual Teseu sugeriu que ele fosse adotado por Pílio. Assim fez Pílio e, quando Hércules foi purificado de sua matança dos centauros, pois quem tivesse as mãos manchadas de sangue não podia participar dos Mistérios, ele foi devidamente iniciado por Museu, filho de Orfeu, tendo Teseu como padrinho. Eumolpo, porém, fundador dos Mistérios Maiores, havia ordenado que nenhum estrangeiro fosse admitido e, por conseguinte, os eleusinos, reticentes em recusar a solicitação de Hércules, mas duvidando de que a adoção feita por Pílio o convertesse num legítimo ateniense, criaram os Mistérios Menores para o favorecer. Segundo outra versão, foi a própria Deméter quem o honrou, instaurando, nessa ocasião, os Mistérios Menores.